Review: "As Coisas Que Faltam"
3.5/5
É quase ironia vir abordar este livro agora. Há uma semana escrevi sobre o que nos faz gostar - ou não - de livros e expliquei que tendo a preferir livros consoante o enredo, mais do que pelas personagens.
No caso deste livro é ao contrário. A Ana Luís, personagem principal, é a maior razão pela qual eu gostei deste primeiro romance da Rita da Nova. É uma clássica jornada do herói. Temos uma personagem, ela tem uma missão e, de imediato, torcemos para que seja bem-sucedida. Só adorava ter passado mais tempo com ela (personagem) - mas já lá vamos.
Primeiro a sinopse: Crescendo apenas com a mãe, aos oito anos, Ana Luís pede-lhe pela primeira vez para conhecer o pai. Habituada a constantes "nãos" mesmo em coisas como ir a casa de colegas, não se surpreendeu quando a resposta negativa chega. No entanto, dói. Sobretudo a partir desse momento, Ana Luís cresce com o sentimento de falta de alguma coisa, exacerbado pela dependência de uma mãe controladora e, em grande parte, fria. Ana Luís tem a certeza de que, quando conhecer o pai, a sua vida será diferente e, à revelia da mãe, decide procurá-lo.
À Ana Luís pode faltar muita coisa, a mim só me faltou uma: um calendário. Ou seja, uma melhor noção de como o tempo passa ao longo deste romance. Tudo acontece tão depressa. Vou tentar não dar imensos spoilers, mas, em apenas 252 páginas vamos desde a infância da Ana Luís até à sua vida adulta. Embora compreenda a intenção (e intenção é o critério que impera na escrita) de incluir todos estes pequenos momentos da vida dela isso faz com que a história seja contada de uma forma apressada. Gostava de me ter demorado mais em alguns pontos: aqueles em que ela idealiza a vida com o pai como forma de lidar com a sua vida real, aqueles em que dá para ver que ela usa as relações - nomeadamente amorosas - para colmatar esta "falta" que sente sempre. Precisava de ir mais devagar, por exemplo, no momento em que ela conhece o Raul (a sua primeira relação séria) e no início em que a relação é boa. Precisava de perceber melhor quanto tempo passa entre as sucessivas tentativas de contacto com o pai que a Ana Luís faz.
Há também neste romance o retrato de alguma dependência feminina em relação aos homens na sua vida, ânsia perante a possibilidade de perda, que, embora me tenha feito revirar os olhos, mais uma vez, compreendo que esteja alinhado com esta personagem que se sente sempre incompleta por não conhecer o pai. Lê-se muito a expressão "ser deixada" ou "receber de bom grado migalhas", muito esta noção de dependência que causa comichão, mas, lá está, dado o historial desta personagem, entendo de onde vem.
Ana Luís é uma personagem bem construída, com profundidade, defeitos - como temos todos - e é isso que a torna tão cativante. Mesmo que a nossa vida não seja como a da Ana Luís, vemo-nos logo impelidos a torcer por ela, queremos que obtenha aquilo que sempre procurou e queremos saber como vai lá chegar.
O final é expectável, mas satisfatório. Exactamente como diz a última frase: "As coisas são como são e isto tinha de ser assim".
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3.5/5
It's almost ironic that I am writing about this book now. A week ago, in this blog, I wrote about what makes us like - or not like - certain books and I explained I tend to like books for the plot more than because of the characters. In this case, it was totally the opposite. Ana Luís, the main character, is the main reason I enjoyed this first novel by Rita da Nova. It's the classic hero's journey. We have a character, she is on a mission and, immediately, we are rooting for her to succeed. I would love to have spent more time with her (the character) though. But we'll get to that later.
First, the synopsis: Growing up with only her mother, at eight-years-old, Ana Luís asks her for the first time to meet her father. Used to hearing the word "no" often in the simplest things like asking to go meet friends, she wasn't surprised when her mother so quickly refused it. Still, it hurt. From that moment on, Ana Luís grows up with the feeling that something is missing from her life, exacerbated by her controlling and cold mother. Ana Luís is sure that, when she meets her father, her life will be different. So, she sets off to find him.
Ana Luís' might feel like she is missing out on a lot, but the only thing I felt that was missing was a calendar, or, more specifically, a better understanding of how time passes in this novel. Everything happens so quickly. In just 252 pages we go from her childhood to her adult life. And although I understand the intent (and intent is the most important criteria in writing) of including all of these moments of her life, that rushes the story and I would have liked to spend more time on some moments like those when she idealizes her life when she meets her father (as a way of dealing with her real life) or those where we can see how she uses her relationships to make up for what she feels is missing from her life. I needed the novel to slow down a bit, for example, when she meets Raul (her first serious boyfriend) and in the beginning when their relationship is good. I also needed to understand better how much time passes between each time she tries to reach her dad.
There are also some moments in this novel that portray the ever-present in fiction feminine dependence on the men in their life that, although it made me roll my eyes, I understand how it aligns with this character who always feels incomplete because she doesn't know her father.
Ana Luís is a well-crafted character, with depth, with flaws - as we all have - and that's what makes her so captivating. Even if our life isn't, at all, like hers, we can't help but root for her, we want her to get what she has always been looking for and we want to know how she is going to get there.
The ending is predictable, but satisfactory. As the last sentence says "things are how they are, and this is how it had to go".