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Inês N. Almeida

Inês N. Almeida

Escrever o final das histórias/Writing the end of stories

Inês Nobre de Almeida, 30.10.25

Mesmo sabendo como queremos que a história que estamos a escrever termine, escrever o final é o mais difícil de todo o processo. É aquilo de que os leitores mais se vão lembrar. Se for um final que não é adequado à história, vão achar que perderam tempo a ler um livro inteiro e não "compensou" (claro que isto é sempre uma questão de opinião de cada um). Mas o contrário também: se o final for incrível, a pessoa vai lembrar-se, será provavelmente uma das razões pelas quais recomendará a leitura - a história é boa até ao final. Se for um final aberto, bem, já aqui falámos disso, é uma questão fraturante: eu amo. Há quem odeie, quem precise de saber tudo o que acontece às personagens até ao fim da sua vida. Eu prefiro poder imaginar (desde que isso faça sentido para a história, claro).

Estou a chegar ao final da primeira ronda de edição daquilo que estou a escrever neste momento. Faltam mais ou menos 30 páginas. O final está escrito, pois, como disse, estou a editar, a corrigir. Mas quanto mais me aproximo do fim mais me pergunto se estou realmente contente com a forma como ele está escrito. Aquele final tem um propósito, mas será que quem lê percebe? Espero que sim. 

Isto leva-me a outro problema da vida de quem escreve: queremos ser lidos, por outro lado, a ideia de alguém nos vir a ler é aterradora. A questão sobre o impacto do final tem apenas uma resposta possível: é preciso dar a ler o manuscrito a alguém para saber se passa a mensagem que eu esperava ou não. Nunca vou sabê-lo se mais ninguém ler, mas a ideia de alguém vir a ler aquelas palavras, mesmo sabendo que elas são da minha imaginação mais do que minhas (eu não tenho nada a ver com aquelas personagens), é aterradora. Mas não há outra maneira. 

Quando chegar ao final das 30 páginas que faltam vou enviar tudo à maravilhosa Dora Santos Marques que tanto me ajudou com o primeiro manuscrito. Falar com ela sobre ele e, sobretudo, ouvir o que ela terá para dizer vai ajudar-me a perceber se consegui escrever a história como queria ou se há coisas que têm de ser alteradas para que a história tenha o sentido que eu quero que ela tenha. Parece que por vezes as histórias são mais de quem as lê do que de quem as escreve porque é a leitura que lhes confere verdadeiro significado. Somos nós que escrevemos e, afinal, está tudo um bocado fora do nosso controlo. Não será essa a ideia mais aterradora de sempre para qualquer escritor? É para mim. 

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Even though we know how we want a story to end, writing the ending is the most difficult of the whole process. It's what readers will remember most. If the ending is not adequate for the story, a reader might think they lost time reading a book with no "payout" at the end (this is super subjective, of course). But also the opposite: if the ending is amazing, people will remember it. It will probably be the reason someone recommends the book - the story is good right until the end. If it's an open ending, well, we've talked about that here, it's a polarising question: I love it. Some people hate it. Some people need to know everything that happens to the characters until the end of their life. I prefer to imagine (as long as that's logical for the story).

I'm reaching the end of a round of edits on my current work in progress. I'm in the last 30 pages. The ending is writter as I'm only editing, correcting. But the closer I get to it, the more I wonder if I'm really happy with how it's written. That ending has a purpose, but will the readers get it? I hope so. 

That leads me to another problem of those who write: we want to be read; on the other hand, the idea of someone reading us it's terrifying. There's only one way to know if the ending has the impact I want: I need someone to read the manuscript. I'll never know if no one ever reads it, but the idea of someone else reading those words - even though I know they say more about my imagination than about me (I am nothing like those characters) - is so scary. But there's no other way.

When I'm done with these last 30 pages I will send the whole thing to the amazing Dora Santos Marques who helped me so much with my first manuscript. Talking to her and most of all hearing what she has to say will help me understand if I managed to write the story as I envisioned it in my head or if for the purpose I had thought I need to write things differently. It seems that sometimes stories belong more to those who read them than to those who write them because it's reading that gives them meaning. We write them, but, in the end, the story is a bit out of our control. And isn't that the most terrifying idea ever? It is for me.

 

Página 305 e as falsas memórias de leitura/Page 305 and false memories of reading

Inês Nobre de Almeida, 23.10.25

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4Esta é uma publicação de opinião sobre um dos livros da minha adolescência, mas antes de falar da história, das personagens, de porque é que adorei ler este livro outra vez, tenho de começar por pedir desculpa a todas as pessoas a quem o recomendei durante os últimos 16 anos. Por isso mesmo o título desta publicação não é "Review: A Elegância do Ouriço" e é aquilo que vocês vêem ali em cima. Desde 2009, quando li este livro pela primeira vez - portanto, há 16 anos - que o recomendo dizendo "é um livro muito lindo! É sobre a amizade entre uma senhora que é concierge num prédio fino de Paris e uma menina de 12 anos, filha de uma das famílias ricas que vive no prédio". 

Caros leitores, eis aquilo de que me apercebi agora que li este livro novamente: o livro tem 405 páginas. As personagens principais começam a conviver na página 305. Significa isto três quartos do livro não são, de todo, sobre a relação entre elas como eu andei a dizer durante tanto tempo. É sim sobre quem é esta mulher e quem é esta menina, nas suas vidas em separado. Apenas o final nos mostra o impacto que têm na vida uma da outra. 

A sinopse: À primeira vista, não há grande movimento no número 7 da Rue de Grenelle, um prédio chique com moradores ricos. Renée é a concierge do prédio, baixota e que tende a ser mal-humurada no contacto com a maioria das pessoas no prédio para não se dar a conhecer. Todos a julgam uma pessoa simples, sem estudos ou conhecimento sobre o que quer que seja. No entanto, atrás da sua porta fechada, guarda um amor às letras e às artes, já para não falar de um conhecimento extraordinário. No prédio também mora Paloma, o mais novo membro da família Josse. O pai é Ministro, a mãe doutorada em letras, a irmã mais velha jura que é filósofa. Paloma, por outro lado, tem planos diferentes: recusa-se a viver no que considera ser um aquário de peixe, sem grande saída. Por isso, decide que se não descobrir algum sentido para a vida, comete suicídio e pega fogo ao apartamento no dia em que completar 13 anos. Enquanto a data não chega, escreve uma série de anotações pessoais que intitula de "Pensamentos Profundos" e de "Diário do Movimento do Mundo".

A primeira vez que Renée e Paloma se encontram é quando a irmã mais velha da menina, Colombe, aguarda uma carta muito importante. Renée convida Paloma para entrar e beber um chá com ela e Paloma aceita. De imediato Paloma se apercebe que a pequena casa de Renée é um lugar calmo, ideal para ela quando quiser fugir da confusão e do barulho na casa dela, com a irmã que põe sempre música demasiado alta. Renée concorda e, assim, a relação entre elas começa a desenvolver-se.

Não vou falar sobre o final deste livro para não o estragar a ninguém. Quero só dizer que, mesmo já sabendo o que ia acontecer, não me lembrava de como caminhávamos até lá (como dá para ver pelo facto de eu nem sequer me lembrar que as duas personagens principais, na verdade, só se conhecem no último quarto do livro). O final manteve, assim, o seu impacto. Só gerou menos raiva, uma vez que já sabia o que ia acontecer. Dezasseis anos depois, continuo a adorar este livro. Pouco há de negativo a apontar. Só me ocorrem alguns momentos em que a Paloma, com 12 a fazer 13 anos, soa bastante mais velha do que a idade que tem. No entanto, as partes do livro que lhe dizem respeito são escritas com tanto humor e algum sarcasmo que até é capaz de ser adequado para uma pessoa daquela idade.

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4This is a review post about one of my favourite books that I read during my teenage years, but, before I dive into the story, characters, and into why I loved re-reading this book, I have to start by apologising to everyone I have recommended this book to in the last 16 years, and that is why the title of this post isn't just "Review "The Hedgehog's Elegance", and is instead what you see up there. Since 2009, when I read this book for the first time - 16 years ago - I recommend it by saying "It is such an amazing book! It's about the friendship between a lady who is a concierge in a fancy building in Paris and a 12-year-old girl, the youngest daughter of one of the rich families in the building".

Reader, here's what I found out now re-reading this: the book has 406 pages. The main characters speak to each other for the first time in page 306. That means that three quarters of the book are not, in fact, about their friendshp, like I have been saying to people for half of my life. It is yes, about this woman and this girl, their lives, seperately. Only the end shows us the impact they have in eachother's lives.

The synopsis: At first glance, there's nothing special about the number 7 of Grenelle Street, a fancy building full of rich people. Renée is the concierge of the building. Short, stacky, she tends to be unpleasant when talking to most people in the country because she doesn't want them to know her. Everyone thinks she is a simple woman, no formal education or knowledge about anything. However, behind her closed door, she keeps a huge love for literature and arts, not to mention extraordinary knowledge. In the building also lives Paloma, the youngest member of the Josse family. Her father is part of the French Government, her mum has a doctorate in humanities, her older sister is a philosopher. Paloma, on the other hand, has different plans: she refuses to live in what she believes to be a fish tank, with no way out. So, she decides that if she doesn't find some meaning to life, she will commit suicide and set fire to her appartment on the day of her 13th birthday. Meanwhile, she writes a series of personal notes she names "Deep Thoughts" and "Diary of the Movement of the World".

The first time Renée and Paloma meet is when Paloma's older sister, Colombe, is expecting to receive a very importante letter. Renée invites Paloma to come in and drink some tea and she accepts. Immediatly, Paloma understands that Renée's home is a quiet place, ideal for her to run away from her own appartment where her sister always plays loud music. Renée agrees and that's how their relationship starts to flourish.

I am not going to speak about the end of this book as to not spoil it. I want to say that, even though I knew what was coming, I didn't really remember how well the author had worked the build-up to that moment (as we can also see by the fact I didn't even remember the two main characters, in fact, only got to know each other in the last quarter of the book). The end still has the same impact. It only didn't make me as angry because I knew it was coming. Sixteen years later, I still love this book. There's very little that I can say I don't like about it. Only some parts centered in Paloma who is 12 turning 13 where she sounds much older than that. However, her chapters are written with such humour and a pinch sarcasm that I might believe it's right for someone that age.

 

Estar em Silêncio/Being totally silent

Inês Nobre de Almeida, 16.10.25

Costumava gostar de escrever com música. Normalmente, instrumental. Sobretudo bandas sonoras de filmes ou séries com ritmo, mas sem letra para as palavras não me distraírem daquelas que estava a tentar escrever. Comecei por escrever ao som de compilações de bandas sonoras instrumentais no Youtube. Depois, quando vi a mini-série "Gâmbito de Dama" na Netflix, há vários anos, durante muito tempo escrevi ao som da banda sonora da série que é incrível e tem um ritmo muito propício à escrita. Mais recentemente - que é como quem diz mais ou menos há um ano - vi a série "Sucessão", na HBO. Também tem uma banda sonora extraordinária, então, decidi criar no meu "Spotify" uma lista que mistura as músicas de ambas as séries. 

Qual é o problema então? Ultimamente tenho reparado que, embora continue a adorar escrever ao som de bandas sonoras, de música que dê ritmo ao meu pensamento, por mais que me custe admitir, eis aqui a verdade: eu escrevo muito melhor quando estou em silêncio. Sem música, sem televisão ligada. Nada. Eu e o teclado do computador apenas. Só que, algumas vezes, sento-me em frente ao computador, sem mais nada, e sinto-me como se faltasse alguma coisa. 

Cheguei à conclusão de que, a menos que esteja a dormir ou a caminhar para lá, parece que já não sei estar em silêncio. Há pessoas que conseguem ir correr ou andar sozinhas, sem auscultadores, sem ouvir nada, só eles e os sons da natureza. Sempre que ando para qualquer lado, se for sozinha, vou de auscultadores a ouvir um "podcast" ou música. Acho que já não sei estar só em silêncio. Por outro lado, há momentos em que sinto que tudo à minha volta é ruído e que parte disso é culpa minha por, ora estar a ver alguma coisa, ora estar a falar com pessoas, ora estar a ouvir pessoas falar.  

Há por aí psicólogos ou pessoas que entendam do funcionamento do cérebro que me possam explicar esta dicotomia? Já não sei estar em silêncio, mas, ao mesmo tempo, às vezes canso-me de tanto ruído. Além disso, sei que pelo bem da minha escrita devia reaprender a estar só em silêncio, mas como é que isso se faz? Aceito quaisquer dicas que tenham (podem partilhar nos comentários). Esta publicação foi escrita em silêncio, mas, tenho a televisão ligada nas notícias e, de vez em quando, dou uma olhadela ao que estão a passar. Aqui está o que quero contrariar. 

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I used to write listening to music. Usually instrumentals. Mostly, film soudtracks with rhythm and no lyrics so the words wouldn't distract me from the ones I'm trying to write. I started by writing to the sound of compilations on Youtube. Then, I watched the mini-series "Queen's Gambit" on Netflix many years ago and, for a long time, I wrote to the soundtrack of it, because it is fantastic, with a very writing-prone rhythm. More recently - that is to say, a year or so ago - I watched the show "Succession" on HBO. It also has an extraordinary soundtrack. I then created a playlist on "Spotify" with songs from both of those soundtracks.

What's the problem, then? Lately I have noticed that, even though I love writing with music on, it pains me to admit that I write way better when in complete silence. No music, no TV on, nothing. Me and the computer keyboard. But sometimes, I sit at the computer with nothing on and I feel like something's missing.

I have reached the conclusion that unless I'm sleeping or on my way to sleep, I don't know how to be in complete silence anymore. Some people can walk or run alone, no headphones, nothing else but them and the sounds of nature or street around them. Every time I have to go somewhere, if I am alone, I'll have my headphones on and I'll be listening to a "podcast" or to music. I don't know how to be in silence anymore. But at the same time, there are moments when I feel like everything around me is noise and that part of it is my fault because I am always listening to something or talking to people or listening to other people talk.

Are there psychologists out there or people who understand how the brain works who can explain to me this contrdiction? I don't know how to be in complete silence anymore but, sometimes, I'm sick of all the noise. Also, I know that for the sake of my writing I should work on learning how to be in silence again, but how do I do that? I accept any tips you may have (please share them in the comments). This post was written in silence, but I have got the TV on. Sometimes, I look at what the news are showing. This is what I am trying to avoid. 

Leituras de Adolescência/Teenage Reads

Inês Nobre de Almeida, 09.10.25

Nunca fui de reler livros. Não tenho nada contra, mas, com tanto livro novo por explorar, não dou por mim a pensar que me apetece voltar a ler qualquer coisa que já li. Salvo raras excepções. Uma delas foram os Harry Potter. Em criança/adolescente, li-os em Português. Quando vivi em Londres, comprei a coleção em Inglês e voltei a ler, para ler na língua original. Também houve um livro que me lembro de ter sido uma amiga a emprestar quando estávamos no ensino secundário. Li-o e adorei. Fiquei fascinada com as questões que a história levantava. Passados mais de dez anos, quando estava em Macau, consegui encontrar uma cópia e reli. Em adulta, achei que o livro estava muito mal escrito. No entanto, a história continua a ser genial (Chama-se "Um Homem com Um Garfo Numa Terra de Sopas" se tiverem curiosidade).  

Finalmente, em Agosto, passado quase um ano a fazer apenas coisas aqui e ali, os chamados biscates, arranjei um emprego a tempo inteiro (sei que parece uma mudança brusca de assunto, mas juro que faz sentido no final). Estou a trabalhar como intérprete Inglês-Francês, línguas que aprendi muito graças ao que fazia fora da escola mais do que na sala de aula - a ver filmes, séries, a ler livros. O meu Francês precisa, sem dúvida, de uns retoquezinhos para eu fazer este trabalho em condições, por isso, voltei à estratégia que melhor me serviu sempre. Já vi algumas séries em francês, outras faladas em inglês legendadas em francês. Também voltei à leitura. 

Ler um livro em Francês é mais desafiante. A linguagem literária nem sempre é fácil. Comecei por um que estava cá em casa, mas rapidamente achei que tinha demasiadas personagens e que a linguagem usada tornava a leitura pesada, difícil. Desisti. Volto a tentar quando estiver mais à vontade. Ainda assim, queria ler um livro em Francês.

Quando comecei a aprender a língua mais a sério, na adolescência, uma amiga da minha prima que mora na Suíça deu-me um livro incrível - "A Elegância do Ouriço" da Muriel Barbery. Ainda está na minha estante. Ela escreveu uma mensagem para mim e datou. Este livro foi-me dado no Verão de 2009, tinha 16 anos, a fazer 17 em Novembro. É dos primeiros livros que me lembro de ter um final que me chocou, que me fez ter vontade de o atirar pela janela, mas apenas porque estava a gostar tanto do livro que não queria que ele acabasse, muito menos daquela maneira.

Decidi relê-lo. Ainda só li umas trinta páginas, estou mesmo no início.  Regressar a este livro, porém, ao contrário do que aconteceu com o outro de que falei, está a ser óptimo. Continuo a achar a escrita incrível. Logo nas primeiras páginas ficamos a conhecer muito bem ambas as personagens principais, o que define a vida delas, e os seus objetivos - sobretudo os de Paloma, de 12 anos. Tenho quase a certeza de que estou a rir com as mesmas coisas que me fizeram rir quando tinha 16 anos, há meia vida, literalmente. Mal posso esperar por continuar a lê-lo (agora que estou a trabalhar só leio mais à noite). 

Outro aspecto muito bom de estar a relê-lo agora é que posso, quando terminar, vir aqui escrever sobre ele. Não pude fazê-lo aos 16 anos, e estou ansiosa por partilhar a experiência de leitura deste livro com um final que já sei que vai dar cabo de mim outra vez. Se já leram também, partilhem nos comentários o que acharam do final (sem grandes spoilers para aqueles que ainda não conhecem). Preciso de saber que houve mais gente a ficar de boca aberta e olhos esbugalhados ou a ter, tal como eu, de reler os últimos parágrafos para ter a certeza de que percebeu bem (até porque estava a ler em Francês).

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I was never much of a "re-reader". I have nothing against it, but, with so many new books to discover, I don't find myself with the urge of diving back into something I already know. There are exceptions. One of them was the Harry Potter books. As a child/teenager, I read them in Portuguese, of course. When I was in London, I bought the collection in original English to see what it was like. There was also a book I remember I borrowed from a friend in secondary school, which I read and loved. I was fascinated by the questions the story forced me to ask. After more than 10 years, while I was in Macau, I found a copy and re-read it. As an adult, though, I found the writing dreadful. The story is still fantastic, though. (I don't think the book has been translated into English unfortunately). 

Finally, in August, after almost a year of doing only some works here and there, I found a full-time job (I know this looks like a sudden change of subject, but I swear it will make sense in the end). I am working as an English-French Interpreter, both languages I learned more thanks to what I did outside of school than inside the classroom - watching films, shows, reading books. My French needs to improve a little for me to do this job well. So, I went back to the strategy that has always worked for me. I've watched a few French shows, others spoken in English but subtitled in French. I also went back to reading in French.

Reading in French is, for me, a lot more challenging than in English. The literary language isn't always easy. I picked up one I had at home which was not mine (it's my mum's) but it has so many characters and a language that made the reading very difficult. I'll try again once I'm more comfortable reading in French. Still, I wanted to read something. When I started to learn French more seriously, as a teenager, a friend of my cousin who lives in Switzerland gave me an amazing book - "The Hedgehog's Elegance" by Muriel Barbery. It's still in my bookcase. My cousin's friend wrote a message for me in the book and dated it. This book was given to me in the Summer of 2009, I was 16 turning 17 in November. It's one of the first books I remember reading with an ending which shocked me. I felt like throwing the book out of the window. I was enjoying it so much that I did not want it to end, especially not like that.

I decided to re-read it. I am only 30-something pages in. Coming back to this book, though, opposite of what happened with the other one, has been amazing. I still find the writing funny, incredible. In the first few pages we immediately understand what kind of people the two main characters are, what defines their life, what they want, especially Paloma, who is 12. I'm almost sure I am laughing at the same things that made me laugh when I read it at 16, literally half a life ago. I can't wait to go on reading.

Another good thing about re-reading this now is that I can, once I am done, come here and write about it. I didn't do that at 16. I can't wait to share this new reading experience of a book with an ending which I know will destroy me, again. If you've read it as well, share in the comments what you thought of the ending (minimal spoilers for those who haven't read yet, please). I need to know there were more people who were shocked by the ending and who, like me, had to read again and again those last sentences to make sure they understood them well (especially because I was reading it in French).

 

 

Review "Stalker"

Inês Nobre de Almeida, 02.10.25

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4 Foste tu que deixaste aquela janela aberta? Tens a certeza de que aquele livro estava na mesa da sala e não na estante? Quando saíste de casa, as cortinas estavam fechadas? Abertas? Estás seguro de que não está ninguém a observar-te neste momento? Ao ler este livro não há como não fazermos estas perguntas a nós próprios. Esta história deixa-nos desconfortáveis, receosos. Isso mostra como está bem escrita.

Primeiro vou deixar-vos a sinopse: "Um assassino em série aterroriza Estocolmo. Qual voyeurista, ele filma as suas presas, sempre mulheres, na intimidade das suas casas e depois coloca os vídeos no Youtube, enviando em simultâneo um link para o Departamento da Polícia Criminal. Quando a primeira mulher aparece morta, vítima de um brutal homicídio, a Polícia começa as suas investigações, mas os vídeos que se sucedem não permitem identificar os alvos." 

Há muito tempo que tinha curiosidade de ler algo deste autor/autores e por esta mesma razão. "Lars Kepler" é um pseudónimo de dois autores que escrevem como um só. Tinha curiosidade por ver o resultado dessa colaboração. Acho que desde os tempos do "Uma Aventura" que não lia nada escrito por duas pessoas. Já faz tempo. Acho sempre fascinante. Escrever é uma actividade tão pessoal, cada um de nós usa as palavras à sua própria maneira, que é curioso ver como uma história fica tão coesa sendo escrita por duas pessoas. O mais provável é que parte do processo de revisão seja garantir a uniformização da voz narrativa, mas não estou aqui para dissecar esses aspetos técnicos. Menciono por curiosidade minha. 

Ao contrário do que costumo fazer, vou começar por vos dizer muito rapidamente o pequeno detalhe que me fez gostar um bocadinho menos desta história e, por isso, dar-lhe quatro estrelas e não cinco. Será rápido porque, na verdade, não é culpa do livro mas minha: este é o quinto livro de uma saga com Joona Lina como personagem principal. Não li os quatro anteriores. Por ter decidido começar por este, houve algumas referências a histórias anteriores e a coisas que aconteceram a personagens já recorrentes na saga que não me dizia nada. Tal como disse, tudo culpa minha. Ninguém me mandou começar pelo quinto livro. Era como se tivesse começado a ler os "Harry Potter" pelo "Ordem da Fénix". 

Ainda assim, amei este livro. A atmosfera sinistra está presente logo desde o início. A narração na terceira pessoa (narrador não-participante), neste caso muito específico, cimenta ainda mais a ideia de que as personagens estão a ser observadas por alguém e adensa o suspense. Ao longo da história, vamos tendo não só a perspetiva da polícia que se esforça por descobrir este assassino em série com ajuda do hipnotista Erik Maria Bark (personagem central do primeiro livro desta saga - "O Hipnotista" - que eu nunca li). 

As cenas mais intensas, porém, são as que dão nome a este livro. São os momentos em que as vítimas estão a viver a sua vida normal e, de repente, se sentem observadas, sentem que algo não está bem. As descrições são tão vívidas que sentimos que alguém espreita pela nossa janela também. O suspense é mantido até ao final e as poucas reviravoltas desta história são bem planeadas, fazem sentido para a história. 

Fiquei com muita vontade de ler mais livros destes autores. Agora, talvez, o melhor seja começar pelo primeiro da colecção - "O Hipnotista".