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Inês N. Almeida

Inês N. Almeida

A criatividade não é um anjo caído do céu. Temos de fazer acontecer. /Creativity isn't an angel fallen from the sky. You have to make it happen.

Inês Nobre de Almeida, 21.03.24

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Hoje escrevo-vos sobre o livro que terminei mais recentemente, "A Impostora" de Rebecca Kuang, mas mais do que sobre o livro quero falar-vos sobre um dos principais temas da obra: a criatividade. Primeiro um pequeno resumo da história (sem spoilers) para quem não leu: Athena Liu é uma autora de sucesso, rainha do mundo literário. June Hayward, sua colega de faculdade, também escritora, tem um livro que pouco vendeu. Não é conhecida. Quando Athena morre num bizarro incidente, June toma a decisão de roubar um manuscrito em que a amiga estava a trabalhar e que ainda ninguém sabia que existia, nem mesmo o seu agente. À medida em que os motivos do seu repentino sucesso começam a ser conhecidos, June demonstra até onde está disposta a ir para proteger a sua actual condição de bestseller.

Este é um livro que espelha a crueldade do mundo editorial, a competição feroz, a pressão sentida por aqueles que esperam atingir o sucesso. Algures no meio do livro há um momento em que o agente de June está a conversar com ela sobre o seu próximo projecto e June explica-lhe que está sem ideias. O seu agente diz, então, o seguinte: "Tens de deixar a criatividade chegar quando ela chegar, eu sei disso". Não podia discordar mais desta frase. A criatividade não é uma vizinha que nos bate à porta de vez em quando para conversar. Não é um amigo que vive noutra cidade e nos visita quando lhe dá jeito. A criatividade é um músculo que tem de ser trabalhado. 

Por vezes, exercitar a criatividade é também dar-lhe descanso, é não ficarmos obcecados pelas nossas próprias ideias. Alimentar a criatividade pode ser ouvir música de que gostamos muito e que nos dá espaço mental para escrever, pode ser fazer exercício físico ou ir dar um passeio. Trabalhar a criatividade pode ser ler um bom livro que nos mostre aquilo a que podemos aspirar, ou um mau livro que nos permita perceber aquilo que não devemos fazer de modo algum. Seja como for, tem de ser exercitada. O bloqueio criativo do escritor não é mais que um músculo preguiçoso a precisar de ser trabalhado. Neste momento tenho dois projectos em curso, embora só esteja a trabalhar a sério num deles. Há um par de meses tive outra ideia. Sei que agora não lhe consigo dar a atenção que merece, mas escrevi os seus traços gerais numa nota improvisada no meu telemóvel (aquelas que espero que ninguém veja como expliquei num post há uns tempos). 

Não quero com isto dizer que sou exemplo para alguém. Não tenho um livro publicado, ainda estou a trabalhar nisso. Também não me atreveria a dizer que nunca estive sem ideias. Isso não é verdade. Todos já tivemos fases em que o músculo está mais preguiçoso. Eu também. Felizmente, há muito que isso não acontece.

Relacionado com isto de ter várias ideias, deixo-vos com uma das minhas frases preferidas deste livro porque me revejo tanto nela: "A escrita é o que mais próximo temos de verdadeira magia. Escrever é criar algo a partir do nada, é abrir portas para outras terras. Escrever dá o poder de dar forma ao nosso próprio mundo quando o mundo real é demasiado doloroso. Parar de escrever matar-me-ia". 

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Today I write to you about the book I finished reading most recently, "Yellowface", by Rebecca Kuang. But more than the book itself, I want to write to you about one of its main themes: creativity. Firstly, a little summary of the story (with no spoilers) for those of you who haven't read it: Athena Liu is a successful author, queen of the literary world. June Hayward, her university colleague, also a writer, has one book which barely sold any copies. She is a nobody. When Athena dies in a bizarre accident, June makes the decision of stealing the manuscript her friend was working on and hadn't shown anyone yet. No one knew it existed, not even her agent. As the motives of June's sudden success start to surface, she shows just how far she is willing to go to keep her status of bestselling author.

This is a book that shows the cruelty of the editorial world, the fierce competition, the pressure felt by those who hope to be successful in it. Somewhere in the middle of the book, June's agente is talking to her about her next project and June tells him she is out of ideas. Then, he says this: "You have to let creativity come when it comes, I know that". I could not disagree more. Creativity is not a neighbour that comes to chat from time to time. It's not a friend from another town who visits when it's more convenient. Creativity is a muscle and it has to be worked.

Sometimes, exercising our creativity is also giving it a rest, it's not becoming obsessed by our own ideas. Feeding our creativity can be listening to music we love and which gives us the mental space to write, it can be reading a good book which show us something to aspire to, or a bad book so we understand what not to do. However it works best for you, we have to work for creativity. Writer's Block is nothing but a lazy muscle needing to be exercised. 

I currently have two works in progress although I am only really working on one of them. A few months back I had a new idea. I know nowadays I cannot give it the necessary attention, so, I wrote the main points on an improvised note on my phone (one of those notes I hope nobody glimpses). I am not saying I am a prime example of anything. I don't have published books, I'm still working on it. I also do not dare to say I was never out of ideas. That's not true. We have all had moments in which the muscle cramps up. So have I. Fortunately, it has been a while since that happened. 

Related to this too, I will leave you with one of my favourite sentences in this amazing book: "Writing is the closest thing we have to real magic. Writing is creating something out of nothing. It's opening doors to other lands. Writing gives you power to shape your own world when the real one hurts too much. To stop writing would kill me."

 

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