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Inês N. Almeida

Inês N. Almeida

Review "Minor Detail"

Inês Nobre de Almeida, 18.04.24

 

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5/5

O décimo primeiro livro deste ano foi incrível e horrível ao mesmo tempo. Com uma escrita directa e evocativa, dá-nos uma visão às vezes demasiado vívida do conflito entre Israel e a Palestina que, infelizmente, parece não ter fim à vista. E este livro faz uma coisa muito importante, sobretudo quando se trata de falar de conflitos, mesmo na ficção: dá-nos as duas perspectivas. Dividido quase exactamente a meio, "Minor Detail" tem dois protagonistas, dois pontos de vista.

Na primeira parte, a história é-nos contada da perspectiva de um soldado Israelita que, logo no início do livro é mordido na perna por um qualquer animal que não consegue identificar e que, por isso, está debilitado. Quando uma rapariga que parecia estar perdida também vem parar ao acampamento onde estava o soldado, ela é, a princípio, acolhida. Os soldados tentam falar com ela mas ela não pronuncia qualquer palavra. Eles dizem-lhe para tomar um duche, oferecem-lhe roupas. 

No entanto, pouco depois, tudo muda. "E naquele momento após o pôr do sol, antes de a escuridão chegar, quando a boca dela libertou uma língua diferente da deles, a rapariga tornou-se uma estranha de novo, apesar de ter feições parecidas aos soldados no acampamento". É a partir deste momento em que a rapariga deixa de ser "resgatada" e passa a ser "capturada". O que se segue é ainda um maior cruel relato da guerra e de uma das consequências da guerra para muitas mulheres. 

Na segunda metade do livro somos levados para o futuro - 25 anos após o que se sabe apenas ter sido uma violação em grupo e assassinato. Uma jovem Palestiniana encontrou por acaso um artigo de jornal que fala exactamente do crime e repara num pequeno detalhe, um Detalhe Menor para qualquer outra pessoa mas não para ela: o crime aconteceu exactamente no dia em que ela nasceu. Essa coincidência leva-a numa viagem - literal e metafórica - pela descoberta de quem era aquela rapariga e de perceber o que lhe aconteceu antes de ser morta. 

Ao lerem este post podem estar a estranhar eu não mencionar nomes. Nenhuma das personagens tem nome, o que é claramente intencional, para simbolizar a despersonalização em tempos de guerra. Ao ler o artigo, a personagem principal na segunda parte diz que "Pode haver nada mais importante que este pequeno detalhe se queremos chegar à verdade completa, mas, ao deixar o nome da rapariga de fora da história, o artigo não o revela". Logo a seguir também indica que o artigo foi escrito por um jornalista Israelita o que poderá ter acentuado ainda mais a despersonalização.

Uma coisa que a autora deste livro faz muito bem são paralelismos. No início da primeira parte, junto do acampamento militar há uma parede destruída com uma frase lá escrita: "E, aqui, deixem-me lembrar-vos que o Homem, não o tanque, deverá prevalecer". Essa citação volta a surgir quando a personagem na segunda parte começa a investigar a guerra consultando um arquivo e novamente quando inicia a sua viagem. Ao mesmo tempo, a rapariga Palestiniana da primeira parte, ao chegar ao acampamento militar, é sempre seguida por um cão. A personagem cujo ponto de vista temos na segunda parte tem um cão também. São estes detalhes menores que tornam este livro incrível, mesmo que muito duro de ler.

_________________________________________________________________________________________________________________5/5

The eleventh book of this year was amazing and awful at the same time. With direct, evocative writing, it gives us a sometimes too vivid description of the conflict between Israel and Palestine which, unfortunately, doesn't seem to be coming to an end anytime soon. This book also does somethings really important, particularly when it comes to conflict, even in fiction: it gives us both perspectives. Split exactly in half, "Minor Detail" has two protagonists, two points of view.

In the first half, the story is told from the point of view of an Israeli soldier who, right at the beginning, was bitten in the leg by an animal he never got a look at. He is debilitated. When a girl who seems lost ends up at the military camp where that soldier was, she was, at first, helped. They let her take a shower, give her clothes so she can change. But soon, everything changes. "And in that moment after dusk, before complete darkness fell, as her mouth released a language different to theirs, the girl became a stranger again, despite how closely she resembled all the soldiers in camp". It's from this moment on that the girl stops being seen as someone to help, and is captured. What follows is an even more grueling account of war and one of its most horrible consequences to many women.

In the second half, we are taken into the future - 25 years after a gang-rape and murder, a young Palestenian finds a newspaper article mentioning the crime and she notices what would be a Minor Detail to anyone else: the crime happened exactly on the day she was born. That coincidence takes her on a journey, literal and metaphorical, to discover who the murdered girl was and understand what happened to her before she died.

Reading this post, you might be thinking "why isn't she mentioning names?". No character in this book has a name, which is clearly intentional, to symbolize the depersonalization in times of war. Reading the article, the main character in the second half says "There may be in fact nothing more important than this little detail if one wants to arrive at the complete truth, which, by leaving out the girl's story, the article does not reveal". Right after, she also says the article was written by an Israeli journalist which might have made things worse.

Something the author of this book does very well is parallels. In the beginning, by the military camp, there a partially destroyed wall with a sentence which reads "Man, not the tank, shall prevail". That quote pops up again in the second half when the palestinian girl is consulting an archive and after when she goes on her journey. At the same time, in the first part, the palestinian girl is always followed by a dog and the one in the second half has got on. It's these minor detail which make this an amazing book, although incredibly tough to read.

 

 

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