Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Inês N. Almeida

Inês N. Almeida

Surpresas, friozinho na barriga e pressa/Surprises, a shiver and hurry

Inês Nobre de Almeida, 18.07.24

20240716_121736.jpg

 

O "50 Women in Technology" existe fora da minha cabeça e do computador há pouco mais de sete meses e até agora tem sido vendido ou em eventos organizados para o efeito, outros para os quais fui convidada ou, online, através do website da editora. Tendo escrito 85% dele, sei que se trata de um livro bastante específico, que não é leitura leve só para passar o tempo, que dificilmente seria encontrado numa livraria de aeroporto (embora a livraria do aeroporto de Hong Kong encomendou 10 cópias e se isso não é razão para lá voltar a correr não sei o que será). Mesmo que não vá vender milhões de cópias, continuo super orgulhosa do meu trabalho e convivia bem com o facto de a maioria das vendas acontecerem através da internet.

Ainda assim, claro, sempre foi mais fore que eu: desde que o livro saiu, de cada vez que ia a uma livraria tinha de ir à secção das ciências ou apenas da não-ficção generalista para o procurar. Podia ser que tivessem encomendado uma cópia ou duas para ver se vendia. Nunca aconteceu. Passado um par de meses deixei de sentir o impulso. Deixei de o fazer.

Na terça-feira fui à Battersea Power Station, onde já não ia há meses. Para quem não conhece: uma antiga central eléctrica que foi restaurada e reconvertida num espaço incrível com lojas, restaurantes, um espaço exterior todo arranjado com uma vista maravilhosa do rio e da paisagem de Londres. Uma das lojas é, claro, uma livraria. É raro ir à Battersea Power Station embora goste muito do espaço. Ainda menos frequente ir à livraria. Na terça-feira fui. A secção de não-ficção e, em particular, "general science", está logo de frente para quem entra.

Qual não é o meu espanto quando, numa das prateleiras ao topo reconheço a lombada verde do "50 Women in Technology". O meu coração acelerou, senti um friozinho na barriga, que emoção! Um ano do meu trabalho logo ali para toda a gente ver e alguém poder comprar. Nem queria acreditar! Não sei descrever muito melhor o que senti ao ver o livro naquela loja, sei apenas que quero voltar a ter a sensação uma e outra vez. Foi, sem dúvida, um empurrão para apressar (não no sentido de aldrabar, claro) a revisão do que estou a escrever e me poder lançar às editoras para, se tudo correr bem, voltar a ver trabalho meu em prateleiras de livrarias. É uma sensação como nenhuma outra. 

_________________________________________________________________________________________________________________

"50 Women in Technology" has existed outside of my head and outside the computer for just over seven months and until now it was sold through events organized with that in mind, others for which I was invited, or online, through the publishers website. Having written 85% of it, I know it's quite specific, it's not a light read to pass the time, it is hardly the kind of thing you would find in an airport bookshop (although the bookshop in the Hong Kong Airport ordered 10 copies and if that's not a reason to go running back there, I don't know what is). Even if the book will not sell millions of copies, I am still super proud of the work I put into it and I have accepted it will mostly sell online.

Still, of course, it was always stronger than me: every time I went to a bookshop, I found myself staring at the science section, or generic non-fiction, to look for it. "Maybe they ordered one or two copies to see if it would sell", I thought. It never happened. After a few months, I no longer felt the urge to do it. I stopped.

On Tuesday, I went to Battersea Power Station, where I hadn't been in months. For those who don't know, it's an old power station which has been renovated and now has shops, restaurants, and an amazing outdoors space. It also has a bookshop, of course. I rarely go to the power station, much less to the bookshop. On Tuesday, I went. The "general science" section is right in front of you when you enter. I looked at it.

To my great surprise, in one of the bookshelves I recognize a bright green spine - "50 Women in Technology". My heart raced, I felt a chill in my stomach, what a rush! One year of my work right there, for everyone to see and get. I couldn't believe it! I can't describe much better what I felt seeing my book on that shop. All I know is I want to feel that rush again. It was an amazing push to finally finish revising my novel and try to find a publisher to, hopefully, again see my work on a bookshop's shelf. It's a feeling like no other.

 

Nervosismo bom e provas de fogo (Good nervewrecking and challenging experiences)

Inês Nobre de Almeida, 10.02.24

20240210_104154.jpg

Escrevo-vos excepcionalmente ao sábado (novo post sairá na quinta-feira na mesma) para partilhar o que fiz hoje pela primeira vez: falei em público sobre o "50 Women in Technology". Não foi exactamente uma apresentação do livro, não era esse o propósito do evento, mas esta manhã estive na Imperial College London a com Megan Hale e Anais Engelmann que entrevistei para o livro a falar para 60 jovens do ensino secundário que pretendem seguir uma carreira nas engenharias ou algo ligado à tecnologia.

Nunca tinha estado numa plataforma (não exactamente um palco) a falar para sessenta pessoas com os olhos postos em mim. O coração parecia que ia saltar pela boca e cair-me aos pés. Felizmente, estava ao lado de duas pessoas muito habituadas a falar em público ao contrário de mim. Ser a primeira a ter de falar não ajudou. No entanto, quando a pessoa a cargo de nos apresentar acabou de o fazer e eu tive de falar sobre como comecei a pesquisar para o "50 Women e Technology" e porque é que é importante darmos destaque aos feitos das mulheres no meio científico, muitos ainda invisíveis, as palavras saíram sem hesitação.

Nem nos trabalhos que fazia e tinha de apresentar na escola me sentia tão à vontade. Nem na peça de teatro em que actuei no décimo segundo ano rodeada de amigos com os quais ensaei durante meses. Talvez a idade ajude, ou ser um trabalho que fiz de raiz. Parte de mim esperava que a idade e ser mais auto-consciente ia exacerbar os nervos. Tudo acabou por correr bem. Enquanto alguém que um dia espera vir a lançar um livro mesmo só seu, de preferência ficção - pelo menos um dos dois que estou a escrever neste momento - ser capaz de enfrentar este medo e subir àquela plataforma foi um momento determinante. Sim, foi aterrador, mas dei a oportunidade e descobri que fui capaz. E agora mal posso esperar por fazê-lo outra vez. O que quero dizer no fundo é: arrisquem a fazer aquilo que vos deixa desconfortáveis! Nunca se sabe o que podem descobrir sobre vocês mesmos. 

_________________________________________________________________________________________________________________

I am writing to you on a Saturday, exceptionally, (regular new post will be here on Thursday as usual) to share with you what I did today for the first time: I spoke in public about "50 Women in Technology". It wasn't a launch, not even an event focused on the book. Still, this morning I was at Imperial College London with Megan Hale and Anais Engelmann, who I interviewed for the book, talking to 60 secondary school students who want to follow a career in engineering or in technology.

I had never been on a platform (it wasn't exactly a stage) talking to so much people with their eyes on me. My heart felt as if it was going to fall out of my mouth at my feet. Fortunately, I was next to two people used to speaking in public, unlike me. Being the first one to have to speak didn't help. Yet, when the person who introduced us finished speaking, I talked about how it was like to research and write "50 Women in Technology" and why it's important to highlight the work of women in scientific fields, a lot of it still barely visible. The words came out with no hesitation.

It wasn't that way when I had to present assignments at school, nor when I had a part in the play we did in 12th grade, in the theatre group, even though I was surrounded by friends with whom I had rehearsed for months. Maybe age helps. Or the fact it was something I made from scratch. Part of me thought age and self-consciousness would exacerbate my nerves. All went well. As someone who one day hopes to launch a book of her own for real, preferably fiction - one of the two I'm writing at the moment - being able to face this fear and to go on that platform was an important moment. Yes, it was terrifying, but I now know I can do it. And I can't wait to do it again. So, I guess what I'm trying to say is: take a chance on yourself. You never know what you might discover!