Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Inês N. Almeida

Inês N. Almeida

As leituras deste ano/This year's readings

Inês Nobre de Almeida, 27.12.24

 

Screenshot_20241219_083630_Samsung Internet.jpgNão sei como foi para vocês mas, para mim, 2024 foi um ano de excelentes leituras. Como o Goodreads fez questão de apontar, acho que é o ano em que dei mais vezes "cinco estrelas". Não gosto da ideia de fazer sequer um "top 10" de leituras porque, sobretudo num ano em que li tantos livros tão bons, seria praticamente impossível. Posso dizer, no entanto, que nesta imagem aqui ao lado estão quase todos os meus preferidos. Faltam dois ou três. 

Se gostam de leituras intensas e que vos arrancam a alma e o coração do corpo, "Demon Copperhead" da Barbara Kingsolver, "Minor Detail" da Adania Shibli e "A Cicatriz" da Maria Francisca Gama são as recomendações que deixo. Acho que ainda estou a recuperar dos três. 

Se estão com curiosidade por uma auto-ficção, "The Shards" do Bret Easton Ellis é espectacular (desde que se ignore o óbvio privilégio de menino rico da Califórnia no adolescente que ele foi e que é a "personagem" principal da história). Porque também se faz óptima auto-ficção em Português, espreitem o "Teoria das Catástrofes Elementares" da Rita Canas Mendes, cuja escrita faz com que pareça que ela está ao nosso lado a contar-nos a história. 

2024 foi ainda ano de algumas leituras mais fora da caixa. Se procurarem algo, no mínimo, peculiar, a recomendação em Português é, claro, o "Sinais de Fumo" do Alex Couto que me fez rir de forma disparatada nos transportes públicos. Podem ler também em Português (mas será tradução) o "Bunny" da Mona Awad que espelha bem como a escrita pode ser mágica, destrutiva, estranha, entusiasmante e tudo isso ao mesmo tempo ou o "Yellowface" - em Português "A Impostora" - da Rebecca Kuang que eu ouvi em audiolivro. Outro dos meus preferidos foi ainda o único livro para um público mais jovem que li em 2024 - "Ketchup Clouds", um romance epistolar que conta a história de uma adolescente que vai confessando um segredo negro que carrega a um prisioneiro no corredor da morte através de cartas que lhe envia. 

 Além de tudo o que me fez adorar estes livros e que tem a ver com aqueles critérios habituais que nos fazem gostar ou não de uma história - personagens, enredo, tom, etc, - os livros de que mais gostei este ano fizeram-me também pensar em como há uma inerente contradição na escrita. Aqueles que tendem a deixar uma maior marca nos leitores (sendo que, claro, só posso falar por mim e pelo que vejo à minha volta) parecem ser aqueles com uma voz mais autêntica, em que as palavras saltam da página e falam diretamente connosco. Aqueles em que parece que o autor é nosso amigo, tomou um café connosco e contou um sonho que teve ou mesmo algo que lhe aconteceu da forma mais articulada e mais bonita. No entanto, é claro que aquelas histórias foram editadas imensas vezes; não foram escritas assim logo no primeiro rascunho.

Saber escrever é saber fazer o leitor acreditar que, sim, foram, mesmo que isso nunca seja verdade. 

_________________________________________________________________________________________________________________

I don't know how 2024 was for you but, for me, it was a year of excellent reads. As Goodreads points out, I think it was the year I gave more "5 star" ratings, at least in recent years. I hate the idea of doing a "top 10" because I read such great books this year that would be practically impossible. I can say, though, that in the image next to this post are most of my favourites. We're only missing two or three.

If you enjoy intense books that rip your heart and soul from your body, "Demon Copperhead" by Barbara Kingsolver or "Minor Detail" by Adania Shibli are the way to go. I am still recovering from both (plus an extra book I am not including in the English version of the post as, for now, it only exists in Portuguese). 

If you enjoy reading "auto-fiction", "The Shards" by Bret Easton Ellis is amazing, just as long as you are able to ignore the obviou southern California boy privilege vibes. 2024 was also the year I read some peculiar books. "Bunny" by Mona Awad shows how writing can be magical, destructive, weird and exhilirating all at the same time. I also really liked "Yellowface" by Rebecca Kuang and "Ketchup Clouds", one of the few YA books I read this year which tells the story of a teenager who confesses a dark secret she carries to a man on death row by sending him letters.

Besides everything that made me love these books which fits the usual criteria - characters, plot, voice - the books I loved the most this year made me think about how there seems to be an inherent contradiction in writing: the stories which leave the biggest mark on a reader (I can only speak, of course, for myself and what I see) seem to be those with the most authentic voice, where words jump from the page and speak to us. Those where it seems the author is our friend, we went out for a coffee, and he or she tells us a dream they had or something that happened to them in the most articulate and beautiful way. But, obviously, all of those stories were heavily edited. None of them were published as they were in the first draft.

Knowing how to write is knowing how to make the reader believe that they were.

 

 

Esquecimentos e uma queixa em relação ao Goodreads/Forgetfulness and a complaint regarding Goodreads

Inês Nobre de Almeida, 19.12.24

 

Screenshot_20241218_205115_Goodreads.jpgSempre que vou viajar esqueço-me de alguma coisa. Nunca é nada de muito importante ou insubstituível. Por norma são objetos simples que facilmente consigo arranjar para onde quer que vá. 

Voei de Londres para Lisboa no sábado passado e só quando cá cheguei é que me apercebi do que faltava desta vez - uma mochila ou um saco de pano com espaço para transportar um livro e/ou um caderno (por norma ando com ambos) para onde quer que vá. Isso significa que enquanto por cá estiver só vou ler enquanto estiver em casa, provavelmente à noite. Não sei se vou acabar ainda este ano o livro que estou a ler agora, "Mulheres Invisíveis", um livro de não-ficção sobre, por exemplo, como uma coisa aparentemente neutra como a limpeza da neve nas estradas na Suécia pode ser sexista (falamos mais sobre isto quando eu acabar de ler o livro e vier aqui fazer uma análise mais completa). 

Seja como for, o Goodreads decidiu já fechar a loja e apresentar-me o meu ano em números. Este ano (até agora) li 31 livros, 10.406 páginas. "The Shards" do Bret Easton Ellis foi o livro de maior dimensão que li este ano, "Small Things Like These" da Claire Keegan foi o mais pequeno. De todos os livros que li, o que está melhor cotado é "Demon Copperhead" da Barbara Kingsolver (percebo bem porquê). 

Este foi um ano de leituras incríveis. Começou com o "The Wager" do David Grann, a seguir li o "Bunny" da Mona Awad, também li o "Ketchup Clouds" que encontrei numa loja de caridade em segunda mão por acaso quase três anos depois de uma professora me ter falado dele. Pelo meio do ano li alguns dos meus preferidos - "Yellowface" (A Impostora), "A Cicatriz" (ainda não recuperei desta leitura), "A História de Roma", "Teoria das Catástrofes Elementares". Enfim. Hei-de fazer uma publicação sobre as minhas leituras preferidas deste ano (e será difícil porque li imensos livros incríveis). Por agora só quero dizer que não me agrada que o Goodreads, tal como o Spotify, tenha a mania de fazer este balanço do ano quando ainda vamos a meio de Dezembro. Muito se pode ler em 15 dias. Ou podia, se não me tivesse esquecido do meu saco de pano em Londres.

Apesar de tudo, a pior das aplicações no que toca aos balanços do ano ainda é o Duolingo. Além de me dizer que fiz 281 lições de espanhol e que estou no top 10% de pessoas mais dedicadas, fez questão de me relembrar que cometi 640 erros.

Não se faz. 

_________________________________________________________________________________________________________________

Every time I travel, I forget something. It's never something really important or irreplaceable. Usually it's things I can easily find wherever I go. I flew from London to Lisbon on Saturday and only when I arrived did I notice what I forgot this time - a backpack or a tote bag with enough space to carry a book and/or a notebook (I usually carry both) wherever I go. That means while I'm here I will only read when at home, most likely at night. I am not sure I will finish this year the book I am currently reading, "Invisible Women - Exposing data bias in a world designed for men", a non-fiction book about how, for example, something apparently neutral like snowcleaning in the winter in Sweden can be sexist (I'll talk more about that when I'm done with the book and I come back here to write about it). 

Be as it may, Goodread has decided to close up shop early and show me my year in numbers now. This year, so far, I read 31 books, 10.406 pages.  "The Shards" by Bret Easton Ellis was the longes book I read, "Small Things Like These" by Claire Keegan was the shortest. Of all the books I read, "Demon Copperhead" by Barbara Kingsolver is the one with the best overall rating on Goodreads (and I can understand why).

This was a year of amazing reads. I started out with "The Wager" by David Grann, followed by  "Bunny" by Mona Awad. I have also read "Ketchup Clouds" which I found in a charity shop by chance almost three years after a professor had talked about it. Halfway through the year I listened to "Yellowface", read "A Cicatriz" ("The Scar") from which I have yet to recover, "A História de Roma" ("The History of Roma") and "Teoria das Catástrofes Elementares" by Rita Canas Mendes. 

I will eventually write a post about my favourite books of this year (which will be difficult as I read amazing things in 2024). For now I only wish to say that I don't like that Goodreads, just like Spotify, does its wrapped while we are in mid-December still. A lot can be read in two weeks. Or could, hadn't I forgotten my tote bag in London. Despite all of this, I have come to realize the worst app when it comes to wrapping the year is Duolingo. Aside from telling me I did 281 Spanish lessons and that I am in the top 10% most dedicated people, it also made a point of reminding me that I made 640 mistakes. 

Not cool.