Review "Stalker"

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Foste tu que deixaste aquela janela aberta? Tens a certeza de que aquele livro estava na mesa da sala e não na estante? Quando saíste de casa, as cortinas estavam fechadas? Abertas? Estás seguro de que não está ninguém a observar-te neste momento? Ao ler este livro não há como não fazermos estas perguntas a nós próprios. Esta história deixa-nos desconfortáveis, receosos. Isso mostra como está bem escrita.
Primeiro vou deixar-vos a sinopse: "Um assassino em série aterroriza Estocolmo. Qual voyeurista, ele filma as suas presas, sempre mulheres, na intimidade das suas casas e depois coloca os vídeos no Youtube, enviando em simultâneo um link para o Departamento da Polícia Criminal. Quando a primeira mulher aparece morta, vítima de um brutal homicídio, a Polícia começa as suas investigações, mas os vídeos que se sucedem não permitem identificar os alvos."
Há muito tempo que tinha curiosidade de ler algo deste autor/autores e por esta mesma razão. "Lars Kepler" é um pseudónimo de dois autores que escrevem como um só. Tinha curiosidade por ver o resultado dessa colaboração. Acho que desde os tempos do "Uma Aventura" que não lia nada escrito por duas pessoas. Já faz tempo. Acho sempre fascinante. Escrever é uma actividade tão pessoal, cada um de nós usa as palavras à sua própria maneira, que é curioso ver como uma história fica tão coesa sendo escrita por duas pessoas. O mais provável é que parte do processo de revisão seja garantir a uniformização da voz narrativa, mas não estou aqui para dissecar esses aspetos técnicos. Menciono por curiosidade minha.
Ao contrário do que costumo fazer, vou começar por vos dizer muito rapidamente o pequeno detalhe que me fez gostar um bocadinho menos desta história e, por isso, dar-lhe quatro estrelas e não cinco. Será rápido porque, na verdade, não é culpa do livro mas minha: este é o quinto livro de uma saga com Joona Lina como personagem principal. Não li os quatro anteriores. Por ter decidido começar por este, houve algumas referências a histórias anteriores e a coisas que aconteceram a personagens já recorrentes na saga que não me dizia nada. Tal como disse, tudo culpa minha. Ninguém me mandou começar pelo quinto livro. Era como se tivesse começado a ler os "Harry Potter" pelo "Ordem da Fénix".
Ainda assim, amei este livro. A atmosfera sinistra está presente logo desde o início. A narração na terceira pessoa (narrador não-participante), neste caso muito específico, cimenta ainda mais a ideia de que as personagens estão a ser observadas por alguém e adensa o suspense. Ao longo da história, vamos tendo não só a perspetiva da polícia que se esforça por descobrir este assassino em série com ajuda do hipnotista Erik Maria Bark (personagem central do primeiro livro desta saga - "O Hipnotista" - que eu nunca li).
As cenas mais intensas, porém, são as que dão nome a este livro. São os momentos em que as vítimas estão a viver a sua vida normal e, de repente, se sentem observadas, sentem que algo não está bem. As descrições são tão vívidas que sentimos que alguém espreita pela nossa janela também. O suspense é mantido até ao final e as poucas reviravoltas desta história são bem planeadas, fazem sentido para a história.
Fiquei com muita vontade de ler mais livros destes autores. Agora, talvez, o melhor seja começar pelo primeiro da colecção - "O Hipnotista".