Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Inês N. Almeida

Inês N. Almeida

Review "Ketchup Clouds"

Inês Nobre de Almeida, 22.02.24

5/5

"Senhor S. Harris,

Ignore a mancha vermelha no canto superior esquerdo. É geleia, não sangue, embora não me pareça que tenha de lhe explicar a diferença. Não foi a geleia da sua mulher que a polícia encontrou no seu sapato".  

Assim começa o romance epistolar "Ketchup Clouds" - "Nuvens de Ketchup" em Português - embora não me pareça que ele tenha sido traduzido. Este parágrafo bastou para a história me prender e, por isso, hoje escrevo-vos sobre a importância do princípio dos livros. Curto e directo, este parágrafo dá-nos imensa informação: aprendemos que a personagem principal pode ser ligeiramente desajeitada ao deitar geleia para cima de uma carta que vai enviar, que a pessoa a quem escreve matou a mulher. Ficamos também a saber que, claramente, "Zoe" (nome fictício), a personagem principal, investigou sobre a pessoa para a qual está a escrever. 

Foi sobretudo esta ideia de uma jovem a trocar correspondência com um homem que está preso por ter matado a mulher que me agarrou. Porque é que ela lhe está a escrever? O que levou Zoe a procurar o Mr. Harris? A procura pela resposta a estas perguntas leva o leitor a mergulhar nesta história e à medida que se vai lendo percebe-se, rapidamente, que Zoe deixou de ser uma adolescente normal no dia 1 de Maio, quando matou uma pessoa. É para tentar aliviar a consciência pesada que escreve a um homem que está no corredor da morte e que, por isso, em breve não poderá revelar o segredo dela a ninguém. É também para partilhar o que aconteceu com alguém que pode sentir alguma empatia por ela naquele momento. 

Outro aspecto deste romance que agarra o leitor é o facto de muito cedo se saber que Zoe matou um rapaz mas haver dois rapazes na vida dela, potenciais vítimas, e só mesmo no final o leitor ficar a saber qual dos dois rapazes morreu e porquê. Ao longo das 300 páginas, fui criando várias teorias (que não vou partilhar para não estragar a leitura a quem ficar curioso) e foi também essa camada extra de mistério que me fez ler este livro em três dias.  

Narrado na primeira pessoa, sempre do ponto de vista de Zoe, nunca chegamos a saber se o Mr. Harris lhe responde. No entanto, um pequeno detalhe curioso demonstra que a familiaridade entre os dois vai crescendo à medida que Zoe vai enviando mais e mais cartas. A primeira (cujo primeiro parágrafo traduzi) é dirigida ao "Senhor S. Harris". Passado algumas páginas, as cartas são endereçadas a "Stuart", depois a "Stu", "Meu querido Stu". 

Resumindo: esta troca de correspondência entre duas pessoas que nunca se conheceram, com um oceano entre eles, cria uma narrativa enigmática, viciante e impossível de parar de ler até termos as respostas que procuramos. Neste campo tenho de dar os parabéns à autora porque, de facto, nada fica por responder a não ser o futuro das personagens que é deixado à imaginação do leitor e ainda bem.

________________________________________________________________________________________________________________

5/5

"Dear Mr. S. Harris,

Ignore the blob of red in the top left corner. It's jam, not blood, though I don't think I need to tell you the difference. It wasn't your wife's jam the police found on your shoe."

That's how the epistolary YA novel "Ketchup Clouds" starts. This paragraph was enough to grab me, so, today I am writing you about the importance of the beginning of stories. Short and direct, this paragraph tells us a lot: we learn the main character is a little bit clumsy by spilling the jelly over the letter she is about to send, that the person who she is writing to killed his wife. We also learn that clearly "Zoe" (fake name), the main character, researched him prior to sending the letters.

It was especially that idea of a teenager exchanging letters with a man in prison for killing his wife which grabbed me. Why did she want to write to him? How did she find out about him in the first place? The quest for these answers allows the reader to dive deep into this story and, as we read it, we understand quickly that Zoe stopped being a regular teenager on May 1st, when she killed someone. It's to relieve the guilty consciense that Zoe writes to a man on death row. Soon, he won't be able to reveal her secret to anyone. She also hopes to share her story with someone who might feel empathy for her in that moment.

Another characteristic of this novel which grabs the reader is the fact that Zoe has two boys in her life and we don't get to know which of them she killed until the very end. Over 300 pages, I created my own theories, which I will not share as to not spoil the story. It was that extra layer of mystery that made me devour that book in three days.

Narrated in a first person point of view, we never know if Mr. Harris replies to her, but a curious detail hints at a growing familiarity. The first letter Zoe sends is addressed to "Mr. S. Harris". After a few pages, the letters are addressed to "Stuart", then "Stu" and, by the end, to "My dearest Stu".

In short: This exchange of letters between two people who have never met, with an ocean between them, creates an enigmatic, adicting narrative, impossible to put down until we find all the answers. And for that I really must congratulate the author for, although there is some room for the reader to imagine how life goes on for the characters after the story ends, no question is left unanswered.

 

Nervosismo bom e provas de fogo (Good nervewrecking and challenging experiences)

Inês Nobre de Almeida, 10.02.24

20240210_104154.jpg

Escrevo-vos excepcionalmente ao sábado (novo post sairá na quinta-feira na mesma) para partilhar o que fiz hoje pela primeira vez: falei em público sobre o "50 Women in Technology". Não foi exactamente uma apresentação do livro, não era esse o propósito do evento, mas esta manhã estive na Imperial College London a com Megan Hale e Anais Engelmann que entrevistei para o livro a falar para 60 jovens do ensino secundário que pretendem seguir uma carreira nas engenharias ou algo ligado à tecnologia.

Nunca tinha estado numa plataforma (não exactamente um palco) a falar para sessenta pessoas com os olhos postos em mim. O coração parecia que ia saltar pela boca e cair-me aos pés. Felizmente, estava ao lado de duas pessoas muito habituadas a falar em público ao contrário de mim. Ser a primeira a ter de falar não ajudou. No entanto, quando a pessoa a cargo de nos apresentar acabou de o fazer e eu tive de falar sobre como comecei a pesquisar para o "50 Women e Technology" e porque é que é importante darmos destaque aos feitos das mulheres no meio científico, muitos ainda invisíveis, as palavras saíram sem hesitação.

Nem nos trabalhos que fazia e tinha de apresentar na escola me sentia tão à vontade. Nem na peça de teatro em que actuei no décimo segundo ano rodeada de amigos com os quais ensaei durante meses. Talvez a idade ajude, ou ser um trabalho que fiz de raiz. Parte de mim esperava que a idade e ser mais auto-consciente ia exacerbar os nervos. Tudo acabou por correr bem. Enquanto alguém que um dia espera vir a lançar um livro mesmo só seu, de preferência ficção - pelo menos um dos dois que estou a escrever neste momento - ser capaz de enfrentar este medo e subir àquela plataforma foi um momento determinante. Sim, foi aterrador, mas dei a oportunidade e descobri que fui capaz. E agora mal posso esperar por fazê-lo outra vez. O que quero dizer no fundo é: arrisquem a fazer aquilo que vos deixa desconfortáveis! Nunca se sabe o que podem descobrir sobre vocês mesmos. 

_________________________________________________________________________________________________________________

I am writing to you on a Saturday, exceptionally, (regular new post will be here on Thursday as usual) to share with you what I did today for the first time: I spoke in public about "50 Women in Technology". It wasn't a launch, not even an event focused on the book. Still, this morning I was at Imperial College London with Megan Hale and Anais Engelmann, who I interviewed for the book, talking to 60 secondary school students who want to follow a career in engineering or in technology.

I had never been on a platform (it wasn't exactly a stage) talking to so much people with their eyes on me. My heart felt as if it was going to fall out of my mouth at my feet. Fortunately, I was next to two people used to speaking in public, unlike me. Being the first one to have to speak didn't help. Yet, when the person who introduced us finished speaking, I talked about how it was like to research and write "50 Women in Technology" and why it's important to highlight the work of women in scientific fields, a lot of it still barely visible. The words came out with no hesitation.

It wasn't that way when I had to present assignments at school, nor when I had a part in the play we did in 12th grade, in the theatre group, even though I was surrounded by friends with whom I had rehearsed for months. Maybe age helps. Or the fact it was something I made from scratch. Part of me thought age and self-consciousness would exacerbate my nerves. All went well. As someone who one day hopes to launch a book of her own for real, preferably fiction - one of the two I'm writing at the moment - being able to face this fear and to go on that platform was an important moment. Yes, it was terrifying, but I now know I can do it. And I can't wait to do it again. So, I guess what I'm trying to say is: take a chance on yourself. You never know what you might discover!

 

 

Voltar à escrita após uma paragem (Going back to writing after a break)

Inês Nobre de Almeida, 21.01.24

Ainda se pode desejar "Feliz Ano Novo" quase no final de Janeiro? Eu digo que sim!

Tendo passado quase metade do mês ainda em casa, de férias, e sem o meu computador, estive três semanas sem escrever. Devo dizer que, embora não tivesse com voltade de voltar a Londres e ao frio e chuva, já tinha saudades do meu computador e alguma ansiedade por estar tanto tempo separada das histórias que estou a escrever. Julguei que ia perder o fio condutor, que já não ia saber que partes estava a trabalhar quando voltasse, que ia ser um processo moroso e doloroso. 

Escrevo-vos para dizer que esta pausa foi produtiva de formas inesperadas e é sobre isso que vos escrevo hoje. Nestas prolongadas férias de Natal em que não pensei na escrita durante quase três semanas, aprendi a importância das pausas, não apenas para dar ao cérebro algum descanso.

Nestas férias três coisas aconteceram:

- Descobri como resolver um problema que tinha na minha história YA há um par de meses;

- Tive uma pequena epifania relativamente à história que comecei para a minha dissertação de mestrado em Escrita Criativa;

- Aprendi coisas que vão melhorar a história que comecei inspirada numa antiga história de família;

- Tive uma ideia para uma história nova.

O que descobri em relação à minha dissertção foi, para mim, o mais surpreendente. Submeti-a em Setembro de 2022. A última vez que lhe mexi foi em Novembro desse ano depois de ter lido os comentários. Embora a minha nota tenha sido boa, uma dos comentários deixados por uma das pessoas que a avaliou foi que eu não parecia saber para onde a história se estava a encaminhar. Quem quer que escreveu isso tinha toda a razão. Embora soubesse, em traços gerais, o que podia acontecer a partir do último capítulo que submeti, não tinha uma ideia clara sobre a história completa e isso foi verdade até estas férias de Natal. 

Em conclusão: Nunca se sintam mal por não estarem a escrever em algum momento da vossa vida, seja por estarem a descansar, ou por estarem demasiado ocupados para o fazer. As pausas podem ser produtivas. Quem sabe aquilo de que o cérebro é capaz quando não estamos a forçá-lo a pensar o dia inteiro, durante semanas ou meses a fio? A imaginação é capaz de coisas brilhantes, mesmo quando não estamos a senti-la a trabalhar. 

Sinto que este ano, com tantos projectos a florescer, vai ser de muita escrita. E por esse lado?

..................................................................................................................................................................

Can I still wish "Happy New Year" when January has almost come to an end? I say yes.

 

Having spent almost half of January at home, on holidays, without my laptop, I didn't write for three weeks. Although I didn't feel like coming back to cold, rainy London, I missed my computer and was feeling a certain separation anxiety from the stories I am writing. I thought, after all this time, I would lose track of my projects. I figured it would be a painful process getting in the groove again.

I write you today to say that, as it turns out, this break was quite productive in unexpected ways. That's what I want to write about today. During these Christmas holidays I didn't think about my writing for almost three weeks and I learned how important it can be to take a break.

Four things happened:

- I figured out how to solve a problem in my YA story, which means I can finally move forward with it;

- I had a small epiphany regarding the story I started for the dissertation of my MA in Creative Writing;

- I read a book which taught me valuable things for what I am writing based on an old family story;

- I had an idea for a new story.

My brain randomly going back to my dissertation was, without a doubt, the most surprising. I submitted it in September of 2022. The last time I touched it was November of 2022, after I read the comments made about it. Even though I had a nice grade, one of the people who graded it said it seemed that I didn't know where I was going with my story. She was right. Even though I had a very clear idea for the beginning, I did not have a plan for what would happen next. That was true until these Christmas holidays.

In conclusion: don't feel bad for not writing at some point in your life. Whether you're taking a break or too busy to do it. Breaks can be productive. Who know what our brain is capable of when we don't make it think all day, for weeks or months on end? Imagination is capable of brilliant things, even when we don't know it's working.

I feel like this year, with so many projects blooming, I will have lots of writing to do. What about you?