Uma coisa nova./ A new thing

Submeti o meu manuscrito revisto (é quase um manuscrito novo, só a estrutura base se mantém) a editoras. Foram três anos, quase quatro, a dedicar grande parte do meu tempo a esta história e agora não há nada a fazer a não ser esperar. Mesmo que respostas cheguem, hão-de demorar muito tempo e não vale a pena abrir o e-mail obsessivamente.
Da mesma forma que há quem diga que a melhor forma de ultrapassar uma relação que terminou é conhecer outras pessoas, a melhor forma de parar de pensar obsessivamente num manuscrito é começar a escrever uma coisa nova.
Há uns dias vi uma publicação algures pela internet a dizer que o Motel X - Festival de filmes de terror em Lisboa - tem uma competição de argumentos. Como espectadora, eu gosto de filmes de terror, sempre gostei. Aqueles que me agradam mais são os que causam uma certa sensação de desconforto que não sei explicar de onde vem, mais do que propriamente aqueles que assustam com monstros que aparecem de repente.
Passado um par de dias tive uma ideia. Na minha cabeça era tudo muito claro. Há uns tempos li algures que havia dois tipos de leitores - aqueles que enquanto lêem imaginam tudo o que está a acontecer, vêem uma espécie de filme na sua própria cabeça, outros que lêem as palavras e pronto, não vêem nada. Eu faço definitivamente parte do primeiro grupo. Quando escrevo é tal e qual. Vejo tudo na minha cabeça, é tão claro. Depois de pesquisar sobre como se escreve um argumento - a estrutura sobretudo - sentei-me ao computador, abri o documento em branco e... nada. Absolutamente nada.
Estou habituada a poder mostrar aquilo que as personagens estão a sentir ou a pensar. Num argumento não posso. Estou habituada a não ter de escrever grandes diálogos - bem pelo contrário, é melhor escrever apenas os diálogos necessários para avançar a história - num argumento tenho mesmo de escrever tudo o que as personagens dizem, senão estou a escrever um filme mudo. Tudo na escrita dos argumentos é completamente ao contrário daquilo que estou habituada. Isto vai ser um grande processo de aprendizagem. Enquanto me dedico a perceber como é que isto se faz, sem dúvida, estou distraída e não penso nos e-mails que enviei ontem às editoras.
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I have submitted my revised manuscript (it's almost a new manuscript) to publishers. It was three years, almost four, dedicating a lot of my time to that story and now there's nothing to do but wait. Even if I get answers, it will take time and there's no point in obsessively checking my e-mail. The same way some people say the best way to get over a relationship after it ends is to meet new people, the best way to stop obsessing over a manuscript is to write something new.
A few days ago I saw online that Motel X - the Horror Film Festival in Lisbon - has a script competition. I love watching horror films, I always have. I especially love those who make me uncomfortable although I can't quite explain why. I like those more than the typical jumpscare/suddenly-music-is-too-loud kind of thing. After a couple of days of seeing the post, I had an idea. In my mind, everything was so clear. A while back I read somewhere that there were too types of readers - those who imagine everything while reading, who see a sort of film in their own head, and those who just read the words. Their mind is just blank. I am most definitely part of group number one. When I write, it's exactly the same. I see everything in my head, so clearly. After I researched about how to write a script - mostly the structure - I sat down at my computer, opened a blank document and ... nothing. Absolutely nothing.
I am used to being able to show what the characters are feeling or thinking. In a script I cannot. I am used to not have much dialogue - on the contrary, in books it's best to only write dialogue that it's absolutely essential to move the plot forward - in a script I have to write everything otherwise I have a silent film. It is going to take some learning. But while I spend my time trying to figure out how to do this, at least, I won't obsess over the e-mails I sent to publishers yesterday.
3.5/5