Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Inês N. Almeida

Inês N. Almeida

Uma coisa nova./ A new thing

Inês Nobre de Almeida, 03.04.25

 

20250403_100425.jpg

Submeti o meu manuscrito revisto (é quase um manuscrito novo, só a estrutura base se mantém) a editoras. Foram três anos, quase quatro, a dedicar grande parte do meu tempo a esta história e agora não há nada a fazer a não ser esperar. Mesmo que respostas cheguem, hão-de demorar muito tempo e não vale a pena abrir o e-mail obsessivamente.  

Da mesma forma que há quem diga que a melhor forma de ultrapassar uma relação que terminou é conhecer outras pessoas, a melhor forma de parar de pensar obsessivamente num manuscrito é começar a escrever uma coisa nova. 

Há uns dias vi uma publicação algures pela internet a dizer que o Motel X - Festival de filmes de terror em Lisboa - tem uma competição de argumentos. Como espectadora, eu gosto de filmes de terror, sempre gostei. Aqueles que me agradam mais são os que causam uma certa sensação de desconforto que não sei explicar de onde vem, mais do que propriamente aqueles que assustam com monstros que aparecem de repente. 

Passado um par de dias tive uma ideia. Na minha cabeça era tudo muito claro. Há uns tempos li algures que havia dois tipos de leitores - aqueles que enquanto lêem imaginam tudo o que está a acontecer, vêem uma espécie de filme na sua própria cabeça, outros que lêem as palavras e pronto, não vêem nada. Eu faço definitivamente parte do primeiro grupo. Quando escrevo é tal e qual. Vejo tudo na minha cabeça, é tão claro. Depois de pesquisar sobre como se escreve um argumento  - a estrutura sobretudo - sentei-me ao computador, abri o documento em branco e... nada. Absolutamente nada. 

Estou habituada a poder mostrar aquilo que as personagens estão a sentir ou a pensar. Num argumento não posso. Estou habituada a não ter de escrever grandes diálogos - bem pelo contrário, é melhor escrever apenas os diálogos necessários para avançar a história - num argumento tenho mesmo de escrever tudo o que as personagens dizem, senão estou a escrever um filme mudo. Tudo na escrita dos argumentos é completamente ao contrário daquilo que estou habituada. Isto vai ser um grande processo de aprendizagem. Enquanto me dedico a perceber como é que isto se faz, sem dúvida, estou distraída e não penso nos e-mails que enviei ontem às editoras. 

_________________________________________________________________________________________________________________

I have submitted my revised manuscript (it's almost a new manuscript) to publishers. It was three years, almost four, dedicating a lot of my time to that story and now there's nothing to do but wait. Even if I get answers, it will take time and there's no point in obsessively checking my e-mail. The same way some people say the best way to get over a relationship after it ends is to meet new people, the best way to stop obsessing over a manuscript is to write something new.

A few days ago I saw online that Motel X - the Horror Film Festival in Lisbon - has a script competition. I love watching horror films, I always have. I especially love those who make me uncomfortable although I can't quite explain why. I like those more than the typical jumpscare/suddenly-music-is-too-loud kind of thing. After a couple of days of seeing the post, I had an idea. In my mind, everything was so clear. A while back I read somewhere that there were too types of readers - those who imagine everything while reading, who see a sort of film in their own head, and those who just read the words. Their mind is just blank. I am most definitely part of group number one. When I write, it's exactly the same.  I see everything in my head, so clearly. After I researched about how to write a script - mostly the structure - I sat down at my computer, opened a blank document and ... nothing. Absolutely nothing.

I am used to being able to show what the characters are feeling or thinking. In a script I cannot. I am used to not have much dialogue - on the contrary, in books it's best to only write dialogue that it's absolutely essential to move the plot forward - in a script I have to write everything otherwise I have a silent film. It is going to take some learning. But while I spend my time trying to figure out how to do this, at least, I won't obsess over the e-mails I sent to publishers yesterday.

 

 

Resoluções de ano novo e o tipo de exercício com que me comprometo/ New Year's Resolutions and the kind of exercise I will promise I will do

Inês Nobre de Almeida, 03.01.25

Feliz 2025, estimados leitores e estimadas leitoras que por aqui me acompanham. Início do ano é sempre tempo de resoluções. À medida que os anos foram passando, tornei-me mais realista nas minhas resoluções, já não ando a dizer a mim própria que vou viver num sítio diferente a cada seis meses ou coisa do género. Nos últimos dez anos vivi em dois países diferentes e já isso teve desafios suficientes. Em vez disso, as minhas resoluções tendem a ser literárias: prometo ler 25 livros (e, desta vez, vou mesmo tentar ler só os 25 livros. No ano passado, como em 2023, foram 32). Também prometo terminar o rascunho da história escrever e, FINALMENTE, começar a editá-la. Há tanta coisa que quero mudar, mas sei que não posso até ter um rascunho completo. E estou muito ansiosa por fazê-lo porque sei quão melhor vai ficar assim que puder fazer essas alterações.

Desde que parei de procurar um trabalho fixo com mais afinco que me tenho mantido afastada do Linkedin. No entanto, ontem fui lá parar por acaso e calhou ver uma publicação da Marta Miranda, directora editorial da "Manuscrito", chancela da Editorial Presença. Diz o seguinte: 

"Ser autor é continuar a escrever. Costumo dizer que a escrita é como um músculo: como qualquer músculo, precisa de treino para crescer: esperares escrever uma obra-prima na primeira vez que te sentas ao computador é tão realista como achares que uma ida ao ginásio é suficiente para acabar com a gordura do adeus. Se isso é possível? É. Já o vi acontecer algumas vezes. Mas se não acontecer contigo, está tudo bem. A questão não é o obstáculo, é o que fazes com ele. Repito: querer publicar um livro é uma coisa, ambicionar ser autor é outra. E só quando entenderes isto podes dar início à tua jornada - seja ela qual for". 

Acho que devia imprimir estas palavras da Marta Miranda e colá-las na minha parede algures. É algo em que penso muitas vezes. Gostava de dizer que a primeira coisa que escrevi foi espetacular e agradou a imensa gente, foi aceite por editoras, foi publicado já, vendeu imenso. Mas essa não é a verdade. Há tanta escrita que existe só no computador que estou a usar para escrever esta publicação também e muito pouca, se alguma, verá a luz do dia. Não faz mal. Há muito mais escrita por vir e sei que vai ser melhor porque, lá está, o músculo da escrita e da criatividade tem de ser trabalhado, todos os dias. Consistência, tal como no exercício físico. Só assim haverá resultados. 

Assim sendo, eis o meu plano de exercício para 2025: escrever todos os dias (dentro da medida do possível, nem que seja cinco minutos de cada vez), ler bons e maus livros - dá para aprender com ambos. Esta resolução já comecei ontem. Outra resolução que estou tentada a ter, também relacionada com o que estava a ler ontem à noite, é a de, por fim, aceitar que está tudo bem em não acabar um livro que não me está a agradar. Leitura, sobretudo para quem escreve, deve ser lição - do que fazer ou do que não fazer - mas é, acima de tudo, diversão. Se a história não me estiver a cativar, tenho de aprender a largar. 

_________________________________________________________________________________________________________________

Happy 2025 to all my readers! It's the beginning of the year and that's the time for resolutions. As time passed, my resolutions became more and more realistic. I no longer tell myself I will live in a different country every six months because I have lived in two different countries the past ten years and that has been challenging enough. Instead, my resolutions became more literary. I promise to read 25 books in 2025 (last year, like in 2023, I read 32). This time I mean it. 25. I also promise to finish the first draft of the story I am writing and FINALLY start to edit it. There's so much I want to change but I know I can't do it until I have a complete draft. I am so excited to be able to do it because I know how much better my story will be after those changes.

Since I stopped consistently looking for a fixed job I have steered clear of Linkedin. But yesterday I ended up there by chance I saw a post by Marta Miranda, the director of "Manuscrito" one of the major publishing houses for new authors in Portugal. She wrote: "Being an author is to keep writing. I usually say writing is a muscle and, like any other muscle, it needs training to grow. Expecting to write a masterpiece the first time you sit down at your computer is as realistic as thinking going to the gym once is enough to trim your fat. If that's possible? Sure. I have seen it, at times. But if it's not the case for you, that's okay. The question is not the obstacle, it's what you do with it. I repeat: wanting to publish a book is one thing, wanting to be an author is another one. It is only when you understand the difference that you can begin your journey - whatever it is".

I think I want to print Marta Miranda's words and glue them to my wall somewhere. I think about it a lot. I would like to be able to say that the first thing I have written was spectacular, pleased a lot of people, sold millions, but that's not true. There is a ton of writing that will never leave my laptop. That's ok. There's a lot more writing yet to come and it will be better because the muscle of creativity and writing needs work, every day. Consistency, just like with actual exercise. Only then, will I have results.

That being said, here is my "workout plan" for 2025: I will write every day (if possible, even if 5 minutes a day), read good and bad books - I can learn from both. This resolution I have already put into practice last night. Another one, related to this, is that it's okay not to finish a book I am not enjoying. Reading, especially for a writer, should be a learning experience on what to do and what not to do, but it's mostly about enjoying the experience. If the story is not captivating, I have to learn to let go. 

Review: "As Coisas Que Faltam"

Inês Nobre de Almeida, 31.10.24

20241025_143340.jpg3.5/5

É quase ironia vir abordar este livro agora. Há uma semana escrevi sobre o que nos faz gostar - ou não - de livros e expliquei que tendo a preferir livros consoante o enredo, mais do que pelas personagens.

No caso deste livro é ao contrário. A Ana Luís, personagem principal, é a maior razão pela qual eu gostei deste primeiro romance da Rita da Nova. É uma clássica jornada do herói. Temos uma personagem, ela tem uma missão e, de imediato,  torcemos para que seja bem-sucedida. Só adorava ter passado mais tempo com ela (personagem) - mas já lá vamos. 

Primeiro a sinopse: Crescendo apenas com a mãe, aos oito anos, Ana Luís pede-lhe pela primeira vez para conhecer o pai. Habituada a constantes "nãos" mesmo em coisas como ir a casa de colegas, não se surpreendeu quando a resposta negativa chega. No entanto, dói. Sobretudo a partir desse momento, Ana Luís cresce com o sentimento de falta de alguma coisa, exacerbado pela dependência de uma mãe controladora e, em grande parte, fria. Ana Luís tem a certeza de que, quando conhecer o pai, a sua vida será diferente e, à revelia da mãe, decide procurá-lo. 

À Ana Luís pode faltar muita coisa, a mim só me faltou uma: um calendário. Ou seja, uma melhor noção de como o tempo passa ao longo deste romance. Tudo acontece tão depressa. Vou tentar não dar imensos spoilers, mas, em apenas 252 páginas vamos desde a infância da Ana Luís até à sua vida adulta. Embora compreenda a intenção (e intenção é o critério que impera na escrita) de incluir todos estes pequenos momentos da vida dela isso faz com que a história seja contada de uma forma apressada. Gostava de me ter demorado mais em alguns pontos: aqueles em que ela idealiza a vida com o pai como forma de lidar com a sua vida real, aqueles em que dá para ver que ela usa as relações - nomeadamente amorosas - para colmatar esta "falta" que sente sempre. Precisava de ir mais devagar, por exemplo, no momento em que ela conhece o Raul (a sua primeira relação séria) e no início em que a relação é boa. Precisava de perceber melhor quanto tempo passa entre as sucessivas tentativas de contacto com o pai que a Ana Luís faz. 

Há também neste romance o retrato de alguma dependência feminina em relação aos homens na sua vida, ânsia perante a possibilidade de perda, que, embora me tenha feito revirar os olhos, mais uma vez, compreendo que esteja alinhado com esta personagem que se sente sempre incompleta por não conhecer o pai. Lê-se muito a expressão "ser deixada" ou "receber de bom grado migalhas", muito esta noção de dependência que causa comichão, mas, lá está, dado o historial desta personagem, entendo de onde vem. 

Ana Luís é uma personagem bem construída, com profundidade, defeitos - como temos todos - e é isso que a torna tão cativante. Mesmo que a nossa vida não seja como a da Ana Luís, vemo-nos logo impelidos a torcer por ela, queremos que obtenha aquilo que sempre procurou e queremos saber como vai lá chegar. 

O final é expectável, mas satisfatório. Exactamente como diz a última frase: "As coisas são como são e isto tinha de ser assim". 

_________________________________________________________________________________________________________________

3.5/5

It's almost ironic that I am writing about this book now. A week ago, in this blog, I wrote about what makes us like - or not like - certain books and I explained I tend to like books for the plot more than because of the characters. In this case, it was totally the opposite. Ana Luís, the main character, is the main reason I enjoyed this first novel by Rita da Nova. It's the classic hero's journey. We have a character, she is on a mission and, immediately, we are rooting for her to succeed. I would love to have spent more time with her (the character) though. But we'll get to that later. 

First, the synopsis: Growing up with only her mother, at eight-years-old, Ana Luís asks her for the first time to meet her father. Used to hearing the word "no" often in the simplest things like asking to go meet friends, she wasn't surprised when her mother so quickly refused it. Still, it hurt. From that moment on, Ana Luís grows up with the feeling that something is missing from her life, exacerbated by her controlling and cold mother. Ana Luís is sure that, when she meets her father, her life will be different. So, she sets off to find him. 

Ana Luís' might feel like she is missing out on a lot, but the only thing I felt that was missing was a calendar, or, more specifically, a better understanding of how time passes in this novel. Everything happens so quickly. In just 252 pages we go from her childhood to her adult life. And although I understand the intent (and intent is the most important criteria in writing) of including all of these moments of her life, that rushes the story and I would have liked to spend more time on some moments like those when she idealizes her life when she meets her father (as a way of dealing with her real life) or those where we can see how she uses her relationships to make up for what she feels is missing from her life. I needed the novel to slow down a bit, for example, when she meets Raul (her first serious boyfriend) and in the beginning when their relationship is good. I also needed to understand better how much time passes between each time she tries to reach her dad. 

There are also some moments in this novel that portray the ever-present in fiction feminine dependence on the men in their life that, although it made me roll my eyes, I understand how it aligns with this character who always feels incomplete because she doesn't know her father. 

Ana Luís is a well-crafted character, with depth, with flaws - as we all have - and that's what makes her so captivating. Even if our life isn't, at all, like hers, we can't help but root for her, we want her to get what she has always been looking for and we want to know how she is going to get there. 

The ending is predictable, but satisfactory. As the last sentence says "things are how they are, and this is how it had to go".

 

 

Enviei o meu manuscrito a editoras no dia em que foi anunciado o Nobel da Literatura/I sent my manuscript to publishers on the day the Nobel Prize in Literature was announced

Inês Nobre de Almeida, 17.10.24

Parabéns à Han Kang, premiada com o Nobel da Literatura 2024! Dela só li "A Vegetariana" (podem ler a minha opinião aqui). No mesmo dia em que o Nobel foi anunciado (quinta-feira), enviei o manuscrito no qual trabalhei desde 2021, às editoras portuguesas que publicam novos autores e o género de livro que escrevi. Foi coincidência e, obviamente não quer dizer nada. Basta ver a dificuldade que estou a ter em fazer uma história com duas linhas temporais funcionar (um grande obrigado à Joana Bértholo pela dica que deu, sem saber, ao falar do seu "A História de Roma). 

Antes de enviar, compus o e-mail e pedi a um amigo que lesse para ter a certeza de que era claro, de que não tinha gralhas e de que não estava a faltar nada relevante em termos de informação a dar. Calha que, nesse exacto momento, ele está prestes a entrevistar sobre a atribuição do Nobel à Han Kang uma das pessoas a quem eu enderecei o meu manuscrito. E ele contou-lhe que eu o tinha feito. O meu texto já não existe só neste computador portátil que também uso para escrever estas publicações semanais. Está na caixa de entrada de quatro pessoas que vão lê-lo e podem gostar ou não. 

Agora resta esperar pelas respostas que hão-de demorar, se chegarem. As editoras devem receber milhentos e-mails por dia com novos manuscritos e qualquer um de nós que já tenha tido demasiados e-mails por ler na caixa de entrada percebe a vontade que dá de não abrir nenhum. Espero que não seja esse o caso. 

Se também estiverem a tentar encontrar editora, deixo aqui a melhor dica que alguma vez recebi: direccionem o vosso e-mail o mais possível. O que quero dizer com isto? investiguem as editoras que aceitam publicar novos autores, mais do que isso, entre essas, aquelas que publicam o género de história que escreveram. Além disso, informem-se sobre os editores também. No meu caso, quando já tinha a lista de editoras que aceitam submissões de manuscritos de novos autores, andei a passear por FNACs e Bertrands de Lisboa a ver que livros dessas editoras alinhavam com o meu e abria a primeira página para ver quem os tinha editado. Quando enviei os meus e-mails na quinta-feira, enderecei-os a esses editores especificamente. 

Boa sorte!

_________________________________________________________________________________________________________________

Huge congratulations to Han Kang who was awarded the Nobel Prize in Literature 2024! By her, I have only read "The Vegetarian" (you can read my review here). On the same day the Nobel was announced (thursday), I sent the manuscript I have been working on since 2021 to the publisher in Portugal which publish new authors in the genre I wrote in. It was a coincidence and it clearly doesn't mean anything. Just look at how much I have been struggling to make my dual-timeline story work (a huge thank you to Joana Bértholo for the tips she inadvertedly gave just by talking about her book "A História de Roma").

Before sending it, I wrote the e-mail and asked a friend to look it over to make sure it was clear, had no mistakes or typos, and that nothing relevant was missing. In that moment, he was about to interview about Han Kang's Nobel one of the people I sent my manuscript to. And he told her I had sent it. Now, my manuscript is no longer just on my computer, the same I sit at to write these weekly posts. It's in the inbox of four people who will read it and may like it or not. All I can do is wait for replies which will take a long time if they ever arrive. Publishers must receive a thousand e-mails a day with new manuscript and anyone who has had a little too many unopened e-mails in their inbox knows how much you just feel like not opening any of them. I sure hope that is not the case here.

If you're also trying to find a publisher for your books, here's the best tip I ever got: make your e-mail as specific as possible. More than investigating if the publishers accept publishing new authors, and if they publish the genre you write in, try to know more about the editors working for each publisher as well. Once I had a list of the publishers I wanted to contact, I went to bookshops in Lisbon and opened books that thematically were similar to mine to see who had edited them. When I sent the e-mails, even if I was only given a general e-mail address, I directed my e-mail to that specific editor.

Good luck!

 

 

O manuscrito de Schrodinger/ Schrodinger's Manuscript

Inês Nobre de Almeida, 12.09.24

20240912_131248.jpg

Há pouco mais de uma semana enviei um e-mail a uma editora a apresentar-me e a falar da história que escrevi e revi um sem número de vezes nos últimos três anos.  Ainda não mandei o manuscrito. No e-mail, apresentei-me, dei uma sinopse curta da história, indiquei aquele que me parece ser o público-alvo. Agora é a pior parte - esperar. A pessoa que me deu o contacto (meu super primo Alex) disse-me que quando foi com ele, esperou meses até ter uma resposta, por isso, estou a contar com um par de meses de ansiedade até ter uma resposta em relação ao que enviei. 

Tenho confiança no potencial daquilo que escrevi. De cada vez que conto um resumo da história a alguém as pessoas ficam interessadas em saber mais, dizem-me que era algo que gostariam de ler, até mesmo desconhecidos com quem apenas partilho um espaço virtual de escrita 50 minutos por dia. No entanto, há sempre a possibilidade de a pessoa que contactei não gostar ou de ser algo que não lhe interessa publicar neste momento.

Além do mais, eu já estive do outro lado. Durante quase dois anos também eu trabalhei para uma editora que de vez em quando recebia manuscritos enviados por e-mail. Era raro, mas acontecia. Vou-vos contar uma história: Há talvez já um ano, a editora para a qual eu trabalhava recebeu um e-mail com uma sinopse e os primeiros três capítulos de um livro de um autor que já tem obra publicada. O autor era um homem e a personagem principal era uma mulher e se há coisa que a história da literatura já provou uma e outra vez é que há escritores homens que nunca devem ter convivido com uma mulher antes de tentar escrever uma personagem feminina. Este é um desses casos. Para além disso, o enredo era ridículo. 

Tenho a certeza de que o autor não acha o enredo ridículo. Ele passou meses a desenvolvê-lo, talvez mais se contarmos com as revisões e edições que já lhe há-de ter feito. O e-mail que enviou termina anunciando que este manuscrito é só o primeiro de uma trilogia, portanto, sem dúvida que tem confiança naquilo que escreveu. Não chegámos a responder-lhe da editora. É provável que tenha enviado para outras também. Pode ser que uma delas tenha dado seguimento, para melhor ou pior. 

É aí que quero chegar. Nestes meses que vou estar à espera de uma resposta ao e-mail que já enviei e a  outros que pretendo enviar (após um pequeno estudo de mercado agora quando for a Portugal) o que escrevi é uma espécie de gato de Schrodinger - pode estar morto ou vivo dentro da caixa e só saberemos se a abrirmos. O meu livro pode ser óptimo ou terrível até alguém o  ler e me dar uma opinião (ou apenas ler a minha sinopse que foi o que enviei). Até haver uma reacção do outro lado, seja ela qual for, eu não saberei com certeza se o que escrevi é tão bom quanto eu acredito ou não. Neste momento, é um manuscrito de Schrodinger.

_________________________________________________________________________________________________________________

Just over a week ago I sent an e-mail to an editor at a publishing house introducing myself and telling her about the novel I wrote and revised a thousand times in the last three years. I haven't sent her the novel yet. On the e-mail I introduced myself, I gave her a synopsis of the story, I talked about what I think is the target audience. Now, the worst part: waiting. The person who gave me her contact (my great friend Alex) told me that when it was with him he had to wait months until he had a reply, so, I'm counting on a couple of months of anxiety until I have an answer.

I believe in what I wrote. Every time I explain the story to someone, people seem interested in knowing more, they tell me it's something they would read, even complete strangers with whom I only share a virtual writing space for 50 minutes a day. Still, there is always a chance that the editor will not like it or it's something she doesn't want to pursue now.

Besides, I have been on the other side. For almost two years I worked at a publishing house which, once in a while, received manuscripts sent via e-mail. It was rare, but it happened. And I am going to tell you a story: a year ago or so, the publishing house got an e-mail with a synopsis and the first three chapters of a manuscript by an author who has already published some work. The author was a man and the main character was a woman and if there's something the history of literature has proved time and again is that there are some men who never met a woman before deciding to write a female character. This was one of those cases. Besides, the plot was ridiculous.

I'm sure the author does not think the plot is ridiculous. He spent months working on it, even longer if we count revisions and editing. The e-mail he sent also said that it was the first book of a trilogy so, he definitely believes in what he wrote. We never got back to him. It's likely that he sent it to other publishers as well. Maybe one of the others repplied to the e-mail, for better or worse.

That's my point. In these coming months that I will be eagerly waiting for a repply from the editor (and other publishing houses I intend to get in touch with after a quick market research when I go back to Portugal in a few days), my manuscript is a sort of Schrodinger's cat - which can be dead or alive inside the box and we can only find out by opening it. My book can be amazing or terrible until the moment someone reads it and let's me know their opinion. Before I get a reaction from the other side, whatever it is, I will never know for sure if what I wrote is as good as I believe it is. At the moment, it's a Schrodinger's manuscript.