Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Inês N. Almeida

Inês N. Almeida

A minha leitura está fora de controlo/My reading is out of control

Inês Nobre de Almeida, 13.11.25

20251112_090140.jpg

Estou a ler três livros ao mesmo tempo. Isto nunca aconteceu. Nunca. Durante anos e anos da minha vida tive amigos que me diziam que liam dois livros ao mesmo tempo, ou, como a minha amiga Sara, que me diz que tem um para ler e ouve audio-livros enquanto faz as limpezas ou outras tarefas domésticas e eu sempre disse "nem pensar. Não conseguia fazer isso. Não me consigo focar em mais do que uma história ao mesmo tempo".

Não vos sei dizer, caros leitores, o que é que sucedeu nos últimos tempos. Vá, mais ou menos. Quando comecei o trabalho como intérprete Inglês - Francês decidi que tinha de ler mais em Francês pois em Inglês já eu muito leio e é uma óptima forma de ganhar vocabulário. Li "A Elegância do Ouriço" e, entretanto, comecei a ler "A Breve Vida das Flores" da Valérie Perrin no Francês original (estou a adorar, quando acabar venho cá escrever sobre ele). Mas ler em Francês continua a ser mais esgotante do que ler em Português ou Inglês, por isso, demoro mais a terminar os livros. 

Comecei a guardar o livro da Valérie Perrin para os intervalos do trabalho. À noite, já mais cansada, prefiro ler em Inglês ou em Português (agora estou a ler o "We Love You, Bunny" da Mona Awad). Como prenda de aniversário recebi um Kobo. Trabalhando de casa quase não ando de transportes, mas, no fim-de-semana dos meus anos estive fora, por isso, no autocarro, levei comigo o kobo e para variar um bocadinho decidi escolher um livro de não-ficção: "Isto É para Todos - A História Inacabada da World Wide Web" do Tim Berners-Lee, criador da internet como a conhecemos hoje. 

O da Mona Awad vai a meio, o da Valérie Perrin estou quase a terminar, o último, do Tim Berners-Lee, ainda estou bastante no início. E não é que me lembro de onde estou em cada ponto da história de cada um deles? Impensável há uns anos. Não sei mesmo o que aconteceu no meu cérebro. Dizem que à medida que vamos crescendo e tornando-nos mais velhos vamos sabendo definir melhor as nossas prioridades. Talvez o meu cérebro tenha decidido tornar prioritário ser capaz de ler mais que um livro ao mesmo tempo. Ainda bem. 

__________________________________________________________________________________________________________________

I'm reading three books at the same time. This never happened. Ever. For years and years I had friends who told me they were reading two books at the same time or, like my friend Sara, who tells me she has one to read and one as an audiobook which she listens to while doing house chores, and I always thought "no way. I can't do that. I can't focus on more than one story at the time".

I can't tell you, readers, what happened lately. Ok, kind of. When I started my new job as an English-French interpreter, I decided to read more books in French because I already read a lot in English and it's a great way to gain vocabulary. I read "The Hedgehog's Elegance" and now I am reading "Fresh Water for Flowers" by Valérie Perrin in the original French (I am almost done with it and I'll write the review soon). But reading in French is still much more exhausting to me than in English or Portuguese, so, I decided to save this book for work breaks, during the day. At night, when I'm more tired, I'm reading "We Love You, Bunny", by Mona Awad. 

As a birthday gift I got a Kobo. Because I work from home, I rarely take transportation, but on my birthday weekend I travelled, so, on the bus, I took the Kobo with me. For a little change, I decided to go for a non-fiction book, "This is For Everyone -  The Unfinished Story of the World Wide Web" by Tim Berners-Lee, creator of the internet as we know it.

I've barely begun Tim Berners-Lee's book, I am almost halfway through Mona Awad's and close to finishing the one by Valérie Perrin and I can tell you I remember everything about where I am in each of them. That was unthinkable a few years ago. I don't know what happened in my brain. They say as we grow and grow old we get better at prioritising. Maybe my brain decided it was a priority to be able to read more than a book at once. Great.

 

Primeiro do ano - "Mulheres Invisíveis"/ First book of the year - "Invisible Women"

Inês Nobre de Almeida, 16.01.25

 20250111_103007.jpg4

Está terminada a primeira leitura de 2025. Este já tinha começado no final do ano passado. Aprendi imenso com este livro. Também revirei muito os olhos e apeteceu-me atirar com ele à cabeça metafórica do patriarcado. Vivemos num mundo feito para homens e mais do que injusto e desconfortável, isso pode ser até perigoso. É isso mesmo que este livro ensina. 

A sinopse: "Imagina um mundo em que... o teu telemóvel é demasiado grande para a tua mão, o teu médico prescreve medicamentos errados para o teu corpo, que num acidente de carro tens mais 47% de probabilidade de ser ferida com gravidade. Se algumas destas coisas soam familiares, é provável que sejas uma mulher. Desde políticas governamentais e investigação médica, a tecnologia ou aos locais de trabalho e aos media, "Mulheres Invisíveis" mostra como num mundo construído em grande parte para e pelos homens, estamos sistematicamente a ignorar metade da população, muitas vezes, com consequências desastrosas".

Fiquei exausta  de frustração a ler este livro. Revi-me em quase todos os capítulos e mesmo aqueles com os quais não me revejo - os da maternidade uma vez que não sou mãe, ou os que têm a ver com a segurança rodoviária pois não conduzo - deixaram um gosto amargo na minha garganta. Mais uma vez - que frustração ler este livro.

Podemos começar pelas coisas mais simples: Há pouco mais de um ano, quando comprei o telemóvel que tenho agora, andei a fazer pesquisas para ver o que era melhor (dentro do adequado ao meu bolso) e decidi comprar um certo modelo. Fui ao centro comercial sabendo o que queria. Tinha as funcionalidades que precisava, durabilidade da bateria, etc. Cheguei à loja, procurei o telemóvel que tinha escolhido e peguei nele. Era enorme na minha mão. Seria enorme também numa mala mais pequena que usasse, por exemplo, para sair. Acabei por escolher outro. A escolha de um telemóvel não é sequer problema de primeiro mundo, não é um problema, mas foi isto que aconteceu da última vez que tive de optar.  

Mas este livro fala de outras coisas. Logo no início, por exemplo, Caroline Criado Perez fala de algo que é "aparentemente neutro" no impacto que tem nos homens e mulheres. Depois explica porque é que isso não é verdade. Neste caso, ela estava a falar da limpeza da neve nas estradas da Suécia, um país que tem fama de ser igualitário. Na limpeza da neve eram sistematicamente priorizadas algumas estradas que veio a perceber-se que correspodiam tendencialmente aos padrões de viagem dos homens já que, estatisticamente, os homens conduzem mais do que as mulheres naquele país. Vias pedonais, nas quais, por exemplo, as mulheres empurram carrinhos de bebé, são deixadas para segundo plano.

Outra coisa que foi difícil de engolir - foi preciso a Sheryl Samberg, agora COO da Meta, chamar a atenção da Google para o facto de não haver lugares de estacionamento reservados próximos da entrada para mulheres grávidas quando lá trabalhava para uma gigante tecnológica como a Google perceber que isso era uma necessidade. A GOOGLE! Desculpem, não entendo. E deram ouvidos à Sheryl Samberg porque era uma chefia. E as pessoas que engravidaram antes dela? Pois. 

Algo em que nunca tinha pensado também: estamos em 2025, este livro só tem cinco anos. Como é que, então, no final da década passada os uniformes para a Polícia e militares continuam a ser "neutros"? As mulheres têm seios que, por isso, são constantemente apertados por todo o equipamento protector que têm de utilizar uma vez que nada está adaptado ao corpo feminino. (* grito 17988796757* de frustração). Neste caso é particularmente grave. Estamos a falar de questões de segurança, potencialmente casos de vida ou morte. Temos de fazer melhor. O mesmo pode ser dito em relação ao sem número de medicações que são testadas apenas em homens porque "ah e tal as mulheres têm flutuações hormonais e um corpo mais imprevisível". Eu não sou cientista, mas diria que esse é o argumento exactamente para os medicamentos serem estudados em mulheres e não em homens, mas pronto, é o que temos. 

Para finalizar, este livro também aborda algo que me irrita imenso que são as percepções em relação ao que um homem e uma mulher devem ser. a Caroline Criado Perez escreveu sobre a primeira eleição do Donald Trump em 2016 - e a vitória sobre Hillary Clinton - , mas o mesmo serviria para este segundo mandato: "Ser a primeira mulher a ocupar o cargo mais poderoso do mundo requer um nível extraordinário de ambição. Mas pode dizer-se também que é bastante ambicioso para um homem de negócios falhado, celebridade da TV sem experiência política candidatar-se ao cargo político mais de topo no mundo - mas a ambição não é uma palavra suja no que toca a Donald Trump". Porquê? Porque os homens podem e devem ser ambiciosos, podem e devem ser agressivos, podem e devem ser tudo o que eles quiserem. As mulheres ambiciosas são mal vistas. As mulheres assertivas são logo "agressivas" por defenderem uma ideia, por expressarem uma opinião. Ai de nós. Mulher deve ser dócil, deve ser calma, deve ser ponderada, tudo aquilo que não é exigido aos homens. 

Com todo o respeito: que se lixem essas ideias antiquadas (e olhem que escrevi "que se lixem" mas até queria escrever outra coisa) . Precisamos de ser melhores do que isto. 

_________________________________________________________________________________________________________________

4

I finished my first book of 2025. I had started it at the end of last year. I learned a lot with it. I also rolled my eyes a lot and felt like throwing the book at the metaphorical head of the patriarchy. We live in a world made for men and more than unjust and uncomfortable, it can turn dangerous. That's exactly what the book teaches us.

The synopsis: "Imagine a world where... Your phone is too big for your hand, your doctor prescribes a drug that is wrong for your body. In a car accident, you are 47% more likely to be seriously injured. If this sounds familiar, chances are that you're a woman. From government policy and medical research, to technology, workplaces and the media, Invisible Women reveals how, in a world largely built for and by men, we are systematically ignoring half the population, othen with disastrous consequences".

I was exhausted with frustration reading this book. I saw myself in almost all of the chapters and even those in which I don't - the ones regarding motherhood because I am not a mother, or the ones concerning road safety because I do not drive - I was left with a bitter taste in my mouth. Once again - it was such a frustrating read.

Let's start simple: just over a year ago, when I bought my phone, I researched to see what worked best for me (and was accessible price-wise). I decided for a specific one. I went to a shop knowing what I wanted. It had the specs I needed. I get there, I looked for the phone I had chosen and I held it. It was huge in my hand. It would also be huge in a smalled handbag. I ended up picking a different one. But choosing a phone is not even a first world problem, it isn't a problem at all. It was just something I noticed.

But this book mentions other things too. For example, right at the beginning, Caroline Criado Perez mentions something "apparently neutral" genderwise. Then, she goes on to explai why it isn't. She was talking about snow-cleaning patterns on the roads in Swenden, a country known for being aware of gender equality issues. When it came to snow cleaning, the roads which were prioritized correpsonded to male travel patterns given that, statistically, swedish men drive more than women. Pedestrian walkways in which women might push prams are not prioritized.

Another hard to swallow truth - it took Sheryl Samberg, now COO of Meta, call out the fact that Google did not have priority parking spaces for pregnant women closer to the entrance when she worked there (and was heavily pregnant) for them to realize that was a necessity. GOOGLE!! I am sorry, I don't get it. Also, they only listened to Sheryl Samberg because she held a senior role. What about all the pregnant women before her? Exactly. 

Something I had never thought about: It's 2025. This book is only five years old. How is it that at the end of the last decade Police and Military uniforms were still "neutral"? Women have breasts that end up being squashed by protective equipment which is too tight because it is not adapted to the female body. (* scream number 1765689 in frustration*). This case is particularly serious. We are talking safety here, potentially cases of life and death. We need to do better. The same can be said about medication tested only in men because "oh, women have hormone fluctuations, it's an unpredictable body". I am no scientist, but I'd say that should be an argument in favour of testing things on women and not on men, but here we are.

To conclude, this book also talks about something I really hate which are the perceptions regarding what men and women should be. Caroline Criado Perez wrote about the first tie Donald Trump got elected in 2016 and his victory over Hillary Clinton, but she could have been writing about his second election as well: "Being the first woman to occupy the most powerful role in the world does take an extraordinary level of ambition. But you could also argue that it's fairly ambitious for a failed businessman and TV celebrity who has no prior political experience to run for the top political job in the world - and yet ambition is not a dirty word when it comes to Trump".

Why? Because men can e should be ambitious, they can and should be aggressive, they can be whatever they want. Women who are ambitious are frowned upon. Assertive women are immediately labeled as "aggressive" if they defend an idea or express an opinion. How do we dare? A woman should be docile, calm, everything that isn't required of men.  

With all the respect: screw those antiquated ideas (and let me tell you: I wrote "screw" but I definitely wanted to write another word). We need to do better.

 

 

As leituras deste ano/This year's readings

Inês Nobre de Almeida, 27.12.24

 

Screenshot_20241219_083630_Samsung Internet.jpgNão sei como foi para vocês mas, para mim, 2024 foi um ano de excelentes leituras. Como o Goodreads fez questão de apontar, acho que é o ano em que dei mais vezes "cinco estrelas". Não gosto da ideia de fazer sequer um "top 10" de leituras porque, sobretudo num ano em que li tantos livros tão bons, seria praticamente impossível. Posso dizer, no entanto, que nesta imagem aqui ao lado estão quase todos os meus preferidos. Faltam dois ou três. 

Se gostam de leituras intensas e que vos arrancam a alma e o coração do corpo, "Demon Copperhead" da Barbara Kingsolver, "Minor Detail" da Adania Shibli e "A Cicatriz" da Maria Francisca Gama são as recomendações que deixo. Acho que ainda estou a recuperar dos três. 

Se estão com curiosidade por uma auto-ficção, "The Shards" do Bret Easton Ellis é espectacular (desde que se ignore o óbvio privilégio de menino rico da Califórnia no adolescente que ele foi e que é a "personagem" principal da história). Porque também se faz óptima auto-ficção em Português, espreitem o "Teoria das Catástrofes Elementares" da Rita Canas Mendes, cuja escrita faz com que pareça que ela está ao nosso lado a contar-nos a história. 

2024 foi ainda ano de algumas leituras mais fora da caixa. Se procurarem algo, no mínimo, peculiar, a recomendação em Português é, claro, o "Sinais de Fumo" do Alex Couto que me fez rir de forma disparatada nos transportes públicos. Podem ler também em Português (mas será tradução) o "Bunny" da Mona Awad que espelha bem como a escrita pode ser mágica, destrutiva, estranha, entusiasmante e tudo isso ao mesmo tempo ou o "Yellowface" - em Português "A Impostora" - da Rebecca Kuang que eu ouvi em audiolivro. Outro dos meus preferidos foi ainda o único livro para um público mais jovem que li em 2024 - "Ketchup Clouds", um romance epistolar que conta a história de uma adolescente que vai confessando um segredo negro que carrega a um prisioneiro no corredor da morte através de cartas que lhe envia. 

 Além de tudo o que me fez adorar estes livros e que tem a ver com aqueles critérios habituais que nos fazem gostar ou não de uma história - personagens, enredo, tom, etc, - os livros de que mais gostei este ano fizeram-me também pensar em como há uma inerente contradição na escrita. Aqueles que tendem a deixar uma maior marca nos leitores (sendo que, claro, só posso falar por mim e pelo que vejo à minha volta) parecem ser aqueles com uma voz mais autêntica, em que as palavras saltam da página e falam diretamente connosco. Aqueles em que parece que o autor é nosso amigo, tomou um café connosco e contou um sonho que teve ou mesmo algo que lhe aconteceu da forma mais articulada e mais bonita. No entanto, é claro que aquelas histórias foram editadas imensas vezes; não foram escritas assim logo no primeiro rascunho.

Saber escrever é saber fazer o leitor acreditar que, sim, foram, mesmo que isso nunca seja verdade. 

_________________________________________________________________________________________________________________

I don't know how 2024 was for you but, for me, it was a year of excellent reads. As Goodreads points out, I think it was the year I gave more "5 star" ratings, at least in recent years. I hate the idea of doing a "top 10" because I read such great books this year that would be practically impossible. I can say, though, that in the image next to this post are most of my favourites. We're only missing two or three.

If you enjoy intense books that rip your heart and soul from your body, "Demon Copperhead" by Barbara Kingsolver or "Minor Detail" by Adania Shibli are the way to go. I am still recovering from both (plus an extra book I am not including in the English version of the post as, for now, it only exists in Portuguese). 

If you enjoy reading "auto-fiction", "The Shards" by Bret Easton Ellis is amazing, just as long as you are able to ignore the obviou southern California boy privilege vibes. 2024 was also the year I read some peculiar books. "Bunny" by Mona Awad shows how writing can be magical, destructive, weird and exhilirating all at the same time. I also really liked "Yellowface" by Rebecca Kuang and "Ketchup Clouds", one of the few YA books I read this year which tells the story of a teenager who confesses a dark secret she carries to a man on death row by sending him letters.

Besides everything that made me love these books which fits the usual criteria - characters, plot, voice - the books I loved the most this year made me think about how there seems to be an inherent contradiction in writing: the stories which leave the biggest mark on a reader (I can only speak, of course, for myself and what I see) seem to be those with the most authentic voice, where words jump from the page and speak to us. Those where it seems the author is our friend, we went out for a coffee, and he or she tells us a dream they had or something that happened to them in the most articulate and beautiful way. But, obviously, all of those stories were heavily edited. None of them were published as they were in the first draft.

Knowing how to write is knowing how to make the reader believe that they were.

 

 

Esquecimentos e uma queixa em relação ao Goodreads/Forgetfulness and a complaint regarding Goodreads

Inês Nobre de Almeida, 19.12.24

 

Screenshot_20241218_205115_Goodreads.jpgSempre que vou viajar esqueço-me de alguma coisa. Nunca é nada de muito importante ou insubstituível. Por norma são objetos simples que facilmente consigo arranjar para onde quer que vá. 

Voei de Londres para Lisboa no sábado passado e só quando cá cheguei é que me apercebi do que faltava desta vez - uma mochila ou um saco de pano com espaço para transportar um livro e/ou um caderno (por norma ando com ambos) para onde quer que vá. Isso significa que enquanto por cá estiver só vou ler enquanto estiver em casa, provavelmente à noite. Não sei se vou acabar ainda este ano o livro que estou a ler agora, "Mulheres Invisíveis", um livro de não-ficção sobre, por exemplo, como uma coisa aparentemente neutra como a limpeza da neve nas estradas na Suécia pode ser sexista (falamos mais sobre isto quando eu acabar de ler o livro e vier aqui fazer uma análise mais completa). 

Seja como for, o Goodreads decidiu já fechar a loja e apresentar-me o meu ano em números. Este ano (até agora) li 31 livros, 10.406 páginas. "The Shards" do Bret Easton Ellis foi o livro de maior dimensão que li este ano, "Small Things Like These" da Claire Keegan foi o mais pequeno. De todos os livros que li, o que está melhor cotado é "Demon Copperhead" da Barbara Kingsolver (percebo bem porquê). 

Este foi um ano de leituras incríveis. Começou com o "The Wager" do David Grann, a seguir li o "Bunny" da Mona Awad, também li o "Ketchup Clouds" que encontrei numa loja de caridade em segunda mão por acaso quase três anos depois de uma professora me ter falado dele. Pelo meio do ano li alguns dos meus preferidos - "Yellowface" (A Impostora), "A Cicatriz" (ainda não recuperei desta leitura), "A História de Roma", "Teoria das Catástrofes Elementares". Enfim. Hei-de fazer uma publicação sobre as minhas leituras preferidas deste ano (e será difícil porque li imensos livros incríveis). Por agora só quero dizer que não me agrada que o Goodreads, tal como o Spotify, tenha a mania de fazer este balanço do ano quando ainda vamos a meio de Dezembro. Muito se pode ler em 15 dias. Ou podia, se não me tivesse esquecido do meu saco de pano em Londres.

Apesar de tudo, a pior das aplicações no que toca aos balanços do ano ainda é o Duolingo. Além de me dizer que fiz 281 lições de espanhol e que estou no top 10% de pessoas mais dedicadas, fez questão de me relembrar que cometi 640 erros.

Não se faz. 

_________________________________________________________________________________________________________________

Every time I travel, I forget something. It's never something really important or irreplaceable. Usually it's things I can easily find wherever I go. I flew from London to Lisbon on Saturday and only when I arrived did I notice what I forgot this time - a backpack or a tote bag with enough space to carry a book and/or a notebook (I usually carry both) wherever I go. That means while I'm here I will only read when at home, most likely at night. I am not sure I will finish this year the book I am currently reading, "Invisible Women - Exposing data bias in a world designed for men", a non-fiction book about how, for example, something apparently neutral like snowcleaning in the winter in Sweden can be sexist (I'll talk more about that when I'm done with the book and I come back here to write about it). 

Be as it may, Goodread has decided to close up shop early and show me my year in numbers now. This year, so far, I read 31 books, 10.406 pages.  "The Shards" by Bret Easton Ellis was the longes book I read, "Small Things Like These" by Claire Keegan was the shortest. Of all the books I read, "Demon Copperhead" by Barbara Kingsolver is the one with the best overall rating on Goodreads (and I can understand why).

This was a year of amazing reads. I started out with "The Wager" by David Grann, followed by  "Bunny" by Mona Awad. I have also read "Ketchup Clouds" which I found in a charity shop by chance almost three years after a professor had talked about it. Halfway through the year I listened to "Yellowface", read "A Cicatriz" ("The Scar") from which I have yet to recover, "A História de Roma" ("The History of Roma") and "Teoria das Catástrofes Elementares" by Rita Canas Mendes. 

I will eventually write a post about my favourite books of this year (which will be difficult as I read amazing things in 2024). For now I only wish to say that I don't like that Goodreads, just like Spotify, does its wrapped while we are in mid-December still. A lot can be read in two weeks. Or could, hadn't I forgotten my tote bag in London. Despite all of this, I have come to realize the worst app when it comes to wrapping the year is Duolingo. Aside from telling me I did 281 Spanish lessons and that I am in the top 10% most dedicated people, it also made a point of reminding me that I made 640 mistakes. 

Not cool. 

 

Review: "Unbelievable"

Inês Nobre de Almeida, 01.08.24

 

20240728_084421.jpg

4.5/5

 

Mais uma leitura incrível terminada, por isso, abro excepção e escrevo dois posts com reviews um a seguir ao outro (na semana passada foi o "Frankenstein"). Prometo que para a semana que vem tento escrever algo diferente. 

Não parti para este livro às cegas. Na verdade, quando o vi numa das milhentas lojas de caridade que há em Londres decidi agarrá-lo por já ter visto a mini-série que está na Netflix inspirada por ele (a capa do livro, infelizmente, é a fazer alusão à série). Posto isto, já sabia ao que ia. Mesmo assim, este livro tornou-se numa leitura muito mais intensa do que esperava por uma razão simples: vários pontos de vista.

Mas antes de entrar em detalhes, o resumo desta história que é não-ficção (o que a torna ainda mais dura de ler): Marie, 18 anos, foi à Polícia dizer que a meio da noite um homem lhe tinha entrado em casa, que a tinha prendido usando atacadores dos sapatos dela, que a tinha violado repetidamente e tirado várias fotografias dela despida que ameaçou partilhar na internet caso ela alguma vez o denunciasse. No decurso dos vários testemunhos que se vê forçada a dar, alguns detalhes do sucedido começam a falhar e a Polícia duvida da veracidade da história. Pressionada pelos detectives, Marie volta atrás no que disse. Três anos mais tarde, duas detectives de dois Estados diferentes (a história é passada nos Estados Unidos) começam a notar semelhanças em casos de violações que ambas estão a investigar. Eventualmente, descobrem o caso de Marie e a queixa que foi retirada mas nunca realmente destruída.

Esta foi uma história horrível de ler mesmo já sabendo ao que ia. Até porque teve uma grande diferença em relação à série que é sobre o que vos quero falar para não entrar em spoilers: Ponto de Vista. Em qualquer história que escrevam ou leiam o Ponto de Vista é um elemento essencial. Faz toda a diferença na forma em como a história é percepcionada. Uma história contada em terceira pessoa, vista de fora, não é o mesmo que uma história contada em primeira pessoa, em que sentimos o mesmo que as personagens estão a sentir. Há outra coisa a ter em atenção: mesmo numa história contada em terceira pessoa, quem é o foco? E aí está a grande diferença entre a série e este livro incrível - há uma pessoa que na série apenas no final é mencionada. No livro, acompanhamos um percurso essencial para compreender o que acontece de uma outra forma (não vou entrar em detalhes para o caso de irem ver ou ler. Podem perguntar depois!).

 Quem me conhece sabe que a não-ficção enquanto género de leitura é uma preferência muito recente para mim - só comecei a ler mais frequentemente há dois anos, embora na faculdade tenha lido o incrível "A Sangue Frio" do Truman Capote que, não sei como não me fez logo ir à procura de mais livros do género. Sem dúvida, que é uma preferência que veio para ficar, embora algo paradoxal: Em histórias dramáticas e muito intensas como é o caso do "Unbelievable" é bom às vezes abstrairmo-nos de que o que estamos a ler de facto aconteceu a alguém. Por outro lado, é a crueza da realidade que torna a leitura tão vívida. 

_________________________________________________________________________________________________________________

 

4.5/5

 

I finished another amazing book, so, I am making an exception and writing two review posts in a row (after "Frankenstein" last week). I promise next week I will try to write something different.

I didn't jump blindly into this book. In fact, when I saw it at a charity shop, I grabbed it because I had already watched the mini-series on Netflix (the cover of the book, unfortunately, displays an image of the show). That said, I knew what I was getting myself into. Still, this was a much more intense read than I was expecting for one simple reason: the point of view. I'll come back to that.

First, the story: In this non-fiction book (which makes it an even more difficult read), Marie, 18, went to the Police to tell them that a man had broken into her home in the middle of the night, tied her using her own shoelaces, raped her repeatedly and taken several photos of her which he threatened to post online if she ever talked to the Police. Over the course of several hours, some details of what happened start to not add up and Police questions the truth of her claims. Pressured by the detectives, Marie recants her story. Three years later, two detectives from two different States (The story happened in the US)  start noticing similarities between rape cases they're both investigating and eventually that leads them to Marie's report, never filed but never destroyed either.

This was a horrible story to read, even knowing what I was getting myself into, especially due to a huge difference compared to the show: point of view. In every story you read or write, point of view is an essential element. It makes a huge difference in terms of how the story will be perceived. A third person point of view, a story seen from the outside, is not the same as a plot as seen from a first person perspective, in which we feel what the characters feel. Even in a third person POV, who is the focus? That was the big difference between the adaptation and this Pulitzer-winning book. One person only scarcely mentioned in the show by the end, in the book, gets a storyline, we follow their life and get to know them a lot better (I'm not going into details to avoid spoilers. Ask me later in the comments!)

Those who know me know that non-fiction as a reading preference is very recent for me - I've only read non-fiction consistently in the last two years although in university I read the amazing "In Cold Blood" by Truman Capote and I don't know how that didn't immediately make me want to go look for other great narrative non-fictions. Without a doubt, this is a genre I will keep reading, although it gives me mixed feelings: in tragic stories such as "Unbelievable" it would be good to forget the fact that what I am reading actually happened to somebody. At the same time, it's the cruelty of that reality which makes for such a vivid read.

 

 

Surpresas, friozinho na barriga e pressa/Surprises, a shiver and hurry

Inês Nobre de Almeida, 18.07.24

20240716_121736.jpg

 

O "50 Women in Technology" existe fora da minha cabeça e do computador há pouco mais de sete meses e até agora tem sido vendido ou em eventos organizados para o efeito, outros para os quais fui convidada ou, online, através do website da editora. Tendo escrito 85% dele, sei que se trata de um livro bastante específico, que não é leitura leve só para passar o tempo, que dificilmente seria encontrado numa livraria de aeroporto (embora a livraria do aeroporto de Hong Kong encomendou 10 cópias e se isso não é razão para lá voltar a correr não sei o que será). Mesmo que não vá vender milhões de cópias, continuo super orgulhosa do meu trabalho e convivia bem com o facto de a maioria das vendas acontecerem através da internet.

Ainda assim, claro, sempre foi mais fore que eu: desde que o livro saiu, de cada vez que ia a uma livraria tinha de ir à secção das ciências ou apenas da não-ficção generalista para o procurar. Podia ser que tivessem encomendado uma cópia ou duas para ver se vendia. Nunca aconteceu. Passado um par de meses deixei de sentir o impulso. Deixei de o fazer.

Na terça-feira fui à Battersea Power Station, onde já não ia há meses. Para quem não conhece: uma antiga central eléctrica que foi restaurada e reconvertida num espaço incrível com lojas, restaurantes, um espaço exterior todo arranjado com uma vista maravilhosa do rio e da paisagem de Londres. Uma das lojas é, claro, uma livraria. É raro ir à Battersea Power Station embora goste muito do espaço. Ainda menos frequente ir à livraria. Na terça-feira fui. A secção de não-ficção e, em particular, "general science", está logo de frente para quem entra.

Qual não é o meu espanto quando, numa das prateleiras ao topo reconheço a lombada verde do "50 Women in Technology". O meu coração acelerou, senti um friozinho na barriga, que emoção! Um ano do meu trabalho logo ali para toda a gente ver e alguém poder comprar. Nem queria acreditar! Não sei descrever muito melhor o que senti ao ver o livro naquela loja, sei apenas que quero voltar a ter a sensação uma e outra vez. Foi, sem dúvida, um empurrão para apressar (não no sentido de aldrabar, claro) a revisão do que estou a escrever e me poder lançar às editoras para, se tudo correr bem, voltar a ver trabalho meu em prateleiras de livrarias. É uma sensação como nenhuma outra. 

_________________________________________________________________________________________________________________

"50 Women in Technology" has existed outside of my head and outside the computer for just over seven months and until now it was sold through events organized with that in mind, others for which I was invited, or online, through the publishers website. Having written 85% of it, I know it's quite specific, it's not a light read to pass the time, it is hardly the kind of thing you would find in an airport bookshop (although the bookshop in the Hong Kong Airport ordered 10 copies and if that's not a reason to go running back there, I don't know what is). Even if the book will not sell millions of copies, I am still super proud of the work I put into it and I have accepted it will mostly sell online.

Still, of course, it was always stronger than me: every time I went to a bookshop, I found myself staring at the science section, or generic non-fiction, to look for it. "Maybe they ordered one or two copies to see if it would sell", I thought. It never happened. After a few months, I no longer felt the urge to do it. I stopped.

On Tuesday, I went to Battersea Power Station, where I hadn't been in months. For those who don't know, it's an old power station which has been renovated and now has shops, restaurants, and an amazing outdoors space. It also has a bookshop, of course. I rarely go to the power station, much less to the bookshop. On Tuesday, I went. The "general science" section is right in front of you when you enter. I looked at it.

To my great surprise, in one of the bookshelves I recognize a bright green spine - "50 Women in Technology". My heart raced, I felt a chill in my stomach, what a rush! One year of my work right there, for everyone to see and get. I couldn't believe it! I can't describe much better what I felt seeing my book on that shop. All I know is I want to feel that rush again. It was an amazing push to finally finish revising my novel and try to find a publisher to, hopefully, again see my work on a bookshop's shelf. It's a feeling like no other.

 

Review "A Torre dos Segredos"/ Review "A History of Water"

Inês Nobre de Almeida, 07.03.24

20240303_105043.jpg

 

 

4/5

A História que é passada de gerações em gerações, que perdura durante séculos, foi um dia a melhor versão dos acontecimentos aos olhos de alguém. Essa é a principal mensagem de um livro que me surpreendeu e me pôs a pensar sobre a história do meu país - Portugal - sobre o que é ensinado nas escolas e perpetuado até pelas nossas famílias. 

No último parágrafo do livro, Edward Wilson-Lee escreve: "Há poucas demonstrações deste impulso mais eficientes que o mundo em que hoje vivemos, livre e globalmente conectado como nunca, e, ainda assim, construindo para si mesmo formas de limitar a visão a não ir além do intensamente local e semelhante. Não estivemos sempre aqui, sentados em salas lado a lado, fingindo que estamos num mundo só nosso? Já estavamos no arquivo dos sonhos de John Donne, que há-de unir todas as nossas folhas espalhadas para aquela biblioteca onde cada um dos livros estará aberto para os outros; O desafio, parece, é distanciarmo-nos do que estamos a ler e permitirmo-nos vaguear pelo mundo que nos espera nas prateleiras".

Esta mensagem, tão directa e forte, resume bem este livro. Uma mesma história - a expansão marítima portuguesa para o Brasil, África e Ásia - vista por dois olhares muito diferentes e, assim, ficando para sempre registada também com perspectivas contraditórias.

De um lado temos Luís de Camões, poeta e autor d'Os Lusíadas, um épico que enaltece aquilo que os Portugueses melhor fizeram durante as suas viagens no século quinze e dezasseis. Camões tinha um claro interesse em escrever um texto dessa natureza. "Para um vagabundo como Camões se fazer ouvir entre o ruído e confusão da época, seria necessária uma história com um poder extraordinário" e foi isso mesmo que ele fez. Fora d'Os Lusíadas ficaram os registos de como as populações locais dos pontos a que os Portugueses chegaram reagiam. Um relatório escrito no Camboja descreve os Portugueses como "uma raça de homens com barba que enriquecem espiando outras terras, agindo como mercadores, mas voltando mais tarde para atacar e pilhar como ladrões, que ateiam fogo às nossas casas e campos". 

Do outro lado temos Damião de Góis, arquivista na Torre do Tombo, que tentou sempre deixar registada uma história mais global da expansão portuguesa, com perspectivas muitas vezes contraditórias às que a Monarquia naquela altura queria imortalizar. Nas suas mãos "a história de Portugal e até da Europa começou a descoser-se". Muitos dos seus textos eram banidos no país, no entanto, Damião arranjou forma de dar a volta a esse problema e só assim foi possível que as suas ideias perdurassem até hoje. 

Referindo-se apenas à expansão marítima portuguesa, as ideias incluídas neste livro, de como a História que conhecemos pode apenas ser a melhor versão de certos eventos e não o que ocorreu de facto, são globais. Recomendo muito.

_________________________________________________________________________________________________________________

4/5

The History that is passed down from generation to generation and lasts for centuries was, one day, the best version of events in someone's eyes. That is the main conclusion of a book which surprised me and made me question the History of my own country - Portugal - and about what is taught in schools or perpetuated by our own families.

In the last paragraph of the book, Edward Wilson-Lee writes: "There can be few demonstrations of this impulse more effective than the world in which we now live, which is freely and globally connected as never before, and yet relentlessly constructs for itself ways of limiting its vision beyond the intensely local and similar. Haven't we always been here, sitting in next-door rooms, pretending that we are in a world of our own? We live already in John Donne's dream archive, which shall bind up all our scattered leaves again for that library where every book shall lie open to one another; the challenge, it seems, is to tear ourselves away from what we are reading and allow ourselves to wander through the world that awaits us on the shelves."

This message, so direct and strong, sums up this book. The same history - the Portuguese maritime expansion to Brazil, Africa and Asia - seen through two very different lenses, forever registered with contradictory perspectives.

In one side, we have Luís Vaz de Camões, poet and author of "Lusiads", an epic which highlights what the Portuguese did best during their travels in the 15th and 16th century. Camões had a vested interess in writing such a text. "For a vagabond like Camões to make himself heard among the noise and confusion of the age, would require a story of quite some extraordinary power". That is exactly what he did. Left out of his epic "Lusiads" was the documented view of how local populations reacted to the Portuguese presence. A report written in Cambodia describes the portuguese as "that notorious race of bearded men who enrich themselves by spying out the land, acting like merchants, but returning later to attack and plunder like thieves, who set fire to our houses and fields".

On the other side we have Damião de Góis, archivist in Tombo Tower, who always worked to gather a more global vision of the history of Portuguese expansion, with perspectives which often contradicted those of the Monarchy. In his hands "the histpry of Portugal, and even of Europe, began to come loose at the seams". A lot of his texts were banned in the country. Still, Damião found a way to work around that problem and that's how his documented history lasted until today.

Even though this book only focuses on the Portuguese maritime expansion, its core ideas of how the History we know might be only the best version of certain events are global. Highly recommend!

 

Nervosismo bom e provas de fogo (Good nervewrecking and challenging experiences)

Inês Nobre de Almeida, 10.02.24

20240210_104154.jpg

Escrevo-vos excepcionalmente ao sábado (novo post sairá na quinta-feira na mesma) para partilhar o que fiz hoje pela primeira vez: falei em público sobre o "50 Women in Technology". Não foi exactamente uma apresentação do livro, não era esse o propósito do evento, mas esta manhã estive na Imperial College London a com Megan Hale e Anais Engelmann que entrevistei para o livro a falar para 60 jovens do ensino secundário que pretendem seguir uma carreira nas engenharias ou algo ligado à tecnologia.

Nunca tinha estado numa plataforma (não exactamente um palco) a falar para sessenta pessoas com os olhos postos em mim. O coração parecia que ia saltar pela boca e cair-me aos pés. Felizmente, estava ao lado de duas pessoas muito habituadas a falar em público ao contrário de mim. Ser a primeira a ter de falar não ajudou. No entanto, quando a pessoa a cargo de nos apresentar acabou de o fazer e eu tive de falar sobre como comecei a pesquisar para o "50 Women e Technology" e porque é que é importante darmos destaque aos feitos das mulheres no meio científico, muitos ainda invisíveis, as palavras saíram sem hesitação.

Nem nos trabalhos que fazia e tinha de apresentar na escola me sentia tão à vontade. Nem na peça de teatro em que actuei no décimo segundo ano rodeada de amigos com os quais ensaei durante meses. Talvez a idade ajude, ou ser um trabalho que fiz de raiz. Parte de mim esperava que a idade e ser mais auto-consciente ia exacerbar os nervos. Tudo acabou por correr bem. Enquanto alguém que um dia espera vir a lançar um livro mesmo só seu, de preferência ficção - pelo menos um dos dois que estou a escrever neste momento - ser capaz de enfrentar este medo e subir àquela plataforma foi um momento determinante. Sim, foi aterrador, mas dei a oportunidade e descobri que fui capaz. E agora mal posso esperar por fazê-lo outra vez. O que quero dizer no fundo é: arrisquem a fazer aquilo que vos deixa desconfortáveis! Nunca se sabe o que podem descobrir sobre vocês mesmos. 

_________________________________________________________________________________________________________________

I am writing to you on a Saturday, exceptionally, (regular new post will be here on Thursday as usual) to share with you what I did today for the first time: I spoke in public about "50 Women in Technology". It wasn't a launch, not even an event focused on the book. Still, this morning I was at Imperial College London with Megan Hale and Anais Engelmann, who I interviewed for the book, talking to 60 secondary school students who want to follow a career in engineering or in technology.

I had never been on a platform (it wasn't exactly a stage) talking to so much people with their eyes on me. My heart felt as if it was going to fall out of my mouth at my feet. Fortunately, I was next to two people used to speaking in public, unlike me. Being the first one to have to speak didn't help. Yet, when the person who introduced us finished speaking, I talked about how it was like to research and write "50 Women in Technology" and why it's important to highlight the work of women in scientific fields, a lot of it still barely visible. The words came out with no hesitation.

It wasn't that way when I had to present assignments at school, nor when I had a part in the play we did in 12th grade, in the theatre group, even though I was surrounded by friends with whom I had rehearsed for months. Maybe age helps. Or the fact it was something I made from scratch. Part of me thought age and self-consciousness would exacerbate my nerves. All went well. As someone who one day hopes to launch a book of her own for real, preferably fiction - one of the two I'm writing at the moment - being able to face this fear and to go on that platform was an important moment. Yes, it was terrifying, but I now know I can do it. And I can't wait to do it again. So, I guess what I'm trying to say is: take a chance on yourself. You never know what you might discover!