Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Inês N. Almeida

Inês N. Almeida

Review: "Frankenstein"

Inês Nobre de Almeida, 25.07.24

 

IMG_20240722_095035_405.jpg

4/5

Este era um clássico que estava na minha lista há muito tempo, mas nunca tinha calhado lê-lo (o problema habitual da infinita lista de livros por ler). Assim que regressei a Londres após uma curta passagem por Edimburgo onde há uma mão cheia de referências à obra, pareceu-me que estava na altura. Acho que toda a gente conhece, pelo menos em traços gerais, a história deste livro: Victor Frankenstein, um homem apaixonado pela ciência e por novas descobertas, depois de meses a trabalhar com cadáveres e a fazer experiências fica determinado a dar vida a um. Um dia consegue dar vida a uma criatura. Apesar da ambição, uma parte de Victor Frankenstein nunca acreditou realmente que fosse ser bem-sucedido. De repente, via-se a braços com o facto de ter criado algo fora do seu controlo. 

Este livro foi uma surpresa. A história é a que acabei de descrever e, por isso, parti para esta leitura a pensar que ia ler o que, ainda assim, é considerado o ponto de origem de muita ficção científica. Esperava um livro de atmosfera negra, sinistra. Na realidade, passei imenso tempo a ler sobre as paisagens e os lagos da Suíça enquanto tanto Victor Frankenstein como depois o "monstro" (já falamos destas aspas) vagueiam para fugir de uma realidade e encontrar algo diferente. Li também sobre Edimburgo, sobre Londres. A atmosfera negra que tinha antecipado nunca se concretizou, embora tenha havido momentos mais sinistros.

Este livro fascinou-me por dois grandes motivos. O primeiro tem a ver com o facto da Mary Shelley o ter escrito com dezoito anos. DEZOITO. Eu lembro-me do que andava a escrever aos dezoito anos e há mil razões para há anos andar a pedir a quem leu para esquecer. 

O segundo tem a ver com as questões éticas levantadas por esta obra: quem é o monstro na verdade  - uma criatura que não pediu para ser criada, cuja consciência tem imensas limitações e que tem também muito pouco controlo sobre as suas próprias acções? Ou quem, por ambição cega, obsessão desmedida, o criou sem pensar em potenciais consequências?

Numa altura em que se debate o desenvolvimento quase desmedido da Inteligência Artificial e temos tecnologia a "criar" (muito, muito entre aspas) arte e a fazer uma série de outras coisas, muitas das quais podem depressa ficar fora do nosso controlo, este livro escrito em 1818 e as questões que levanta tornam-se bastante actuais, talvez intemporais. Afinal, é mesmo isso que faz um clássico. 

_________________________________________________________________________________________________________________

4/5

 

This classic had been on my list for quite some time but I never got around to reading it (the problem of having a never-ending to read list). When I got back to London after a short trip to Edinburgh where there's a handful of references to the novel, I thought it was time. I think everyone knows this story in general terms: Victor Frankenstein, a man who loves science and new discoveries, after months of working with cadavers and doing experiments, becomes determined to give one life again. One day, he succeeds. Despite his ambition, part of Victor Frankenstein never believed he would be able to do it. Suddenly, he has to face the fact he created something he can't control.

This book was a surprise. The plot is what I just described, so, I went into the novel thinking I was going to read what is still considered the origins of science fiction. I expected a gloomy book, sinister. In reality, I spent most of the time reading about the landscape of Switzerland while Victor Frankenstein and "the monster" (we'll get back to these quotation marks) try to escape from a reality. I also read about Edinburgh, about Geneva. The dark atmosphere I had anticipated never really existed, despite some darker moments.

I am fascinated by this book for two reasons: firstly, the fact Mary Shelley wrote it when she was eighteen. EIGHTEEN. I remember what I was writing at eighteen and there's a thousand reasons why I have asked time and time again for the people who read it to just forget about it.

The second reason has to do with the ethical dillemmas this book brings up. Who is the monster after all? A creature who didn't ask to be created and whose conscience is very limited, as well as his control of his own actions? Or a man who, due to blind ambition, extreme obsession, created him without thinking of the consequences?

In a time when we debate the rapid development of AI and we have technology "creating" art and doing all sorts of things, many of which can quickly be out of our control, this novel written in 1818 becomes very current. The questions it poses are timeless. After all, that's what makes a classic.

 

 

Nervosismo bom e provas de fogo (Good nervewrecking and challenging experiences)

Inês Nobre de Almeida, 10.02.24

20240210_104154.jpg

Escrevo-vos excepcionalmente ao sábado (novo post sairá na quinta-feira na mesma) para partilhar o que fiz hoje pela primeira vez: falei em público sobre o "50 Women in Technology". Não foi exactamente uma apresentação do livro, não era esse o propósito do evento, mas esta manhã estive na Imperial College London a com Megan Hale e Anais Engelmann que entrevistei para o livro a falar para 60 jovens do ensino secundário que pretendem seguir uma carreira nas engenharias ou algo ligado à tecnologia.

Nunca tinha estado numa plataforma (não exactamente um palco) a falar para sessenta pessoas com os olhos postos em mim. O coração parecia que ia saltar pela boca e cair-me aos pés. Felizmente, estava ao lado de duas pessoas muito habituadas a falar em público ao contrário de mim. Ser a primeira a ter de falar não ajudou. No entanto, quando a pessoa a cargo de nos apresentar acabou de o fazer e eu tive de falar sobre como comecei a pesquisar para o "50 Women e Technology" e porque é que é importante darmos destaque aos feitos das mulheres no meio científico, muitos ainda invisíveis, as palavras saíram sem hesitação.

Nem nos trabalhos que fazia e tinha de apresentar na escola me sentia tão à vontade. Nem na peça de teatro em que actuei no décimo segundo ano rodeada de amigos com os quais ensaei durante meses. Talvez a idade ajude, ou ser um trabalho que fiz de raiz. Parte de mim esperava que a idade e ser mais auto-consciente ia exacerbar os nervos. Tudo acabou por correr bem. Enquanto alguém que um dia espera vir a lançar um livro mesmo só seu, de preferência ficção - pelo menos um dos dois que estou a escrever neste momento - ser capaz de enfrentar este medo e subir àquela plataforma foi um momento determinante. Sim, foi aterrador, mas dei a oportunidade e descobri que fui capaz. E agora mal posso esperar por fazê-lo outra vez. O que quero dizer no fundo é: arrisquem a fazer aquilo que vos deixa desconfortáveis! Nunca se sabe o que podem descobrir sobre vocês mesmos. 

_________________________________________________________________________________________________________________

I am writing to you on a Saturday, exceptionally, (regular new post will be here on Thursday as usual) to share with you what I did today for the first time: I spoke in public about "50 Women in Technology". It wasn't a launch, not even an event focused on the book. Still, this morning I was at Imperial College London with Megan Hale and Anais Engelmann, who I interviewed for the book, talking to 60 secondary school students who want to follow a career in engineering or in technology.

I had never been on a platform (it wasn't exactly a stage) talking to so much people with their eyes on me. My heart felt as if it was going to fall out of my mouth at my feet. Fortunately, I was next to two people used to speaking in public, unlike me. Being the first one to have to speak didn't help. Yet, when the person who introduced us finished speaking, I talked about how it was like to research and write "50 Women in Technology" and why it's important to highlight the work of women in scientific fields, a lot of it still barely visible. The words came out with no hesitation.

It wasn't that way when I had to present assignments at school, nor when I had a part in the play we did in 12th grade, in the theatre group, even though I was surrounded by friends with whom I had rehearsed for months. Maybe age helps. Or the fact it was something I made from scratch. Part of me thought age and self-consciousness would exacerbate my nerves. All went well. As someone who one day hopes to launch a book of her own for real, preferably fiction - one of the two I'm writing at the moment - being able to face this fear and to go on that platform was an important moment. Yes, it was terrifying, but I now know I can do it. And I can't wait to do it again. So, I guess what I'm trying to say is: take a chance on yourself. You never know what you might discover!