Review: "Frankenstein"

4/5
Este era um clássico que estava na minha lista há muito tempo, mas nunca tinha calhado lê-lo (o problema habitual da infinita lista de livros por ler). Assim que regressei a Londres após uma curta passagem por Edimburgo onde há uma mão cheia de referências à obra, pareceu-me que estava na altura. Acho que toda a gente conhece, pelo menos em traços gerais, a história deste livro: Victor Frankenstein, um homem apaixonado pela ciência e por novas descobertas, depois de meses a trabalhar com cadáveres e a fazer experiências fica determinado a dar vida a um. Um dia consegue dar vida a uma criatura. Apesar da ambição, uma parte de Victor Frankenstein nunca acreditou realmente que fosse ser bem-sucedido. De repente, via-se a braços com o facto de ter criado algo fora do seu controlo.
Este livro foi uma surpresa. A história é a que acabei de descrever e, por isso, parti para esta leitura a pensar que ia ler o que, ainda assim, é considerado o ponto de origem de muita ficção científica. Esperava um livro de atmosfera negra, sinistra. Na realidade, passei imenso tempo a ler sobre as paisagens e os lagos da Suíça enquanto tanto Victor Frankenstein como depois o "monstro" (já falamos destas aspas) vagueiam para fugir de uma realidade e encontrar algo diferente. Li também sobre Edimburgo, sobre Londres. A atmosfera negra que tinha antecipado nunca se concretizou, embora tenha havido momentos mais sinistros.
Este livro fascinou-me por dois grandes motivos. O primeiro tem a ver com o facto da Mary Shelley o ter escrito com dezoito anos. DEZOITO. Eu lembro-me do que andava a escrever aos dezoito anos e há mil razões para há anos andar a pedir a quem leu para esquecer.
O segundo tem a ver com as questões éticas levantadas por esta obra: quem é o monstro na verdade - uma criatura que não pediu para ser criada, cuja consciência tem imensas limitações e que tem também muito pouco controlo sobre as suas próprias acções? Ou quem, por ambição cega, obsessão desmedida, o criou sem pensar em potenciais consequências?
Numa altura em que se debate o desenvolvimento quase desmedido da Inteligência Artificial e temos tecnologia a "criar" (muito, muito entre aspas) arte e a fazer uma série de outras coisas, muitas das quais podem depressa ficar fora do nosso controlo, este livro escrito em 1818 e as questões que levanta tornam-se bastante actuais, talvez intemporais. Afinal, é mesmo isso que faz um clássico.
_________________________________________________________________________________________________________________
4/5
This classic had been on my list for quite some time but I never got around to reading it (the problem of having a never-ending to read list). When I got back to London after a short trip to Edinburgh where there's a handful of references to the novel, I thought it was time. I think everyone knows this story in general terms: Victor Frankenstein, a man who loves science and new discoveries, after months of working with cadavers and doing experiments, becomes determined to give one life again. One day, he succeeds. Despite his ambition, part of Victor Frankenstein never believed he would be able to do it. Suddenly, he has to face the fact he created something he can't control.
This book was a surprise. The plot is what I just described, so, I went into the novel thinking I was going to read what is still considered the origins of science fiction. I expected a gloomy book, sinister. In reality, I spent most of the time reading about the landscape of Switzerland while Victor Frankenstein and "the monster" (we'll get back to these quotation marks) try to escape from a reality. I also read about Edinburgh, about Geneva. The dark atmosphere I had anticipated never really existed, despite some darker moments.
I am fascinated by this book for two reasons: firstly, the fact Mary Shelley wrote it when she was eighteen. EIGHTEEN. I remember what I was writing at eighteen and there's a thousand reasons why I have asked time and time again for the people who read it to just forget about it.
The second reason has to do with the ethical dillemmas this book brings up. Who is the monster after all? A creature who didn't ask to be created and whose conscience is very limited, as well as his control of his own actions? Or a man who, due to blind ambition, extreme obsession, created him without thinking of the consequences?
In a time when we debate the rapid development of AI and we have technology "creating" art and doing all sorts of things, many of which can quickly be out of our control, this novel written in 1818 becomes very current. The questions it poses are timeless. After all, that's what makes a classic.
