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Inês N. Almeida

Inês N. Almeida

Review "Apneia"

Inês Nobre de Almeida, 27.02.25

 

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Juro que não estou a tentar ser engraçadinha quando digo isto, mas, uf, já posso respirar. "Apneia", da Tânia Ganho, foi o meu livro de Fevereiro e que leitura esta. A um nível muito mais grave, a vida da personagem principal deste livro fez-me lembrar o esquilo da saga "A Idade do Gelo": de cada vez que chegava com a sua bolota ao topo de uma montanha, lá vinha uma nova bola de neve para o empurrar lá para baixo.

A sinopse na contracapa: "Quando Adriana ganha finalmente coragem para sair de casa com o filho de cinco anos, pondo fim ao casamento com Alessandro, mal pode imaginar que o marido, incapaz de aceitar o divórcio, tudo fará para a destruir - nem que para isso tenha de destruir o próprio filho. APNEIA é uma viagem ao mundo sórdido da violência conjugal e parental, através de um labirinto negro em que os limites da resistência psicológica são postos à prova, ameaçando desabar a qualquer instante, e dos meandros tortuosos de uma Justiça por vezes incompreensível, desumana e desfasada da realidade". 

O enredo parece-me uma clássica "jornada do herói", em que Adriana, a protagonista, tem um claro objectivo - afastar-se e ao filho do ex-marido, Alessandro. Vamos falar sobre as personagens porque elas criam esta história, moldam-na através dos seus comportamentos.

Alessandro. Há muito tempo que não lia uma história com uma personagem que gerasse em mim um ódio tão grande, daquele de fazer borbulhar o sangue, de criar vontade de atirar o livro pela janela. De cada vez que pensava que ele não se podia tornar numa pessoa pior, era surpreendida com um novo comportamento asqueroso. Não vou entrar em detalhes para não estragar o livro a quem ainda vai ler. No entanto, e este é o meu único pequeno reparo negativo a este livro incrível, está nele também. Gostava de um ou dois momentos que me fizessem perceber melhor porque é que a Adriana se apaixonou por esta pessoa sequer.

As relações tóxicas não começam logo assim, e é dado um pequeno vislumbre do que a atraiu logo no Alessandro, mas e seis meses depois? Um ano? O que sustentou aquela relação durante tantos anos? Têm de ter havido momentos bons. Sendo ele um claro vilão no pior sentido da palavra, a todos os níveis, era importante para mim enquanto leitora ver um laivo qualquer de humanidade na personalidade dele, até talvez enquanto pai mais do que enquanto marido, para perceber o que manteve a Adriana ali inicialmente. 

Pelo contrário, Adriana é uma protagonista com imensas camadas, tem qualidades, defeitos, bons e maus dias como todos nós. Há momentos em que toma boas decisões, outros em que é precipitada. Não há como não ter empatia por ela enquanto navega aquele mar turbulento para se afastar do Alessandro para sempre. 

Já tinha elogiado na publicação da semana passada a estrutura deste livro - os capítulos pequenos na sua maioria, com salpicos de outros maiores, dão ritmo à história e faz-nos querer ler tudo até ao fim num ápice. Um outro detalhe que me chamou logo a atenção na escrita da Tânia Ganho foram as metáforas tão sensoriais: ela fala de "vergonha viscosa" ou de abismo "com a goela escancarada" e não há como não visualizar essas imagens maravilhosamente nítidas que as palavras dela criam.

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I swear I am not trying to be funny when I say this but: oof, I can finally breathe. "Apnea", by Tânia Ganho (only available in Portuguese for the time being) was the book I read in February and what a read. Although much more serious, the main character's life reminds me of the squirrel in "Ice Age": every time he got with his little nut to the top of a mountain, there came a new snowball to push him back down.

The synopsis: "When Adriana finally has the courage to leave her home with her five year old son, ending her marriage to Alessandro, she could never imagine that her husband, unwilling to accept the divorce, will do everything to destroy her - even if that means destroying his own son. APNEA is a journey to the sordid world of domestic and parental violence, through a dark maze in which the limits of psychological resistence are put to the test, threatening to crumble at any moment, and the tortuous corners of a Justice which is sometimes impossible to understand, inhumane and far from reality".

The plot is a classic "hero's journey" in which Adriana, the protagonist, has a clear goal - to get herself and her son away from her ex-husband, Alessandro. I will, instead, write about the characters because they create this story and shape it through their behaviour.

Alessandro. It has been a long time since I last read a story with a character who I hated so fearcely and fervently. I felt like throwing the book out of the window every time he popped up. Each time I thought he couldn't be a worse human being, he came back with new disgusting behaviour. But here is the thing which is my only tiny negative comment to this amazing book: I wanted one or two moments that helped me understand how Adriana even fell in love with him.

Toxic relationships are not like that from the beginning, and we get a glimpse of what attracted her in Alessandro immediately, but what about six months later? A year? What made that relationship last for so many years? There had to be good moments.Although he is a clear villain, in every sense of the word, it was important to me as reader get a glimpse of his humanity, as a father maybe even more than as a husband, to understand why Adriana fell for him. 

Unlike Alessandro, Adriana is a protagonist with many layers, qualities, flaws, good and bad days like all of us. Sometimes she makes good decisions, other times not so much. It creates instant empathy for her as she navigates the troubled water of violence while trying to get rid of Alessandro for good.

Last week I wrote about how this book is wonderfully structured - the small chapters that give the story such rhythm and makes us want to keep reading until the end. Another aspect that immediately caught my eye in Tânia Ganho's writing were the sensory metaphors. She writes about "slimy shame" or of an abyss "with his mouth wide open" and the reader immediately gets vivid images in their mind.